Qual é a verdadeira história por trás do k-drama Hymn of Death?

Com apenas 3 episódios, o k-drama Hymn of Death encantou (e traumatizou) as dorameiras em 2018 ao apresentar o trágico romance entre Yun Sim Deok e Kim Woo Jin. Estrelado por Lee Jong Suk e Shin Hye Sun, o drama conta a história de amor trágico dos dois artistas coreanos que viveram durante o período da ocupação japonesa na Coreia, porém, o que muitos talvez não saibam é que essa história não foi criada para a ficção, ela realmente aconteceu.
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Neste post, vamos te contar quem foram essas figuras históricas, o que aconteceu com elas e por que Hymn of Death é uma homenagem tão comovente quanto necessária.
Quem foram Yun Sim Deok e Kim Woo Jin?

Yun Sim Deok: a primeira soprano coreana
Nascida em 1897, Yun Sim Deok se destacou desde cedo por sua inteligência e talento musical. Foi a primeira mulher coreana a estudar música clássica no exterior, tendo frequentado a prestigiada Escola de Música de Tóquio, onde aperfeiçoou sua técnica vocal e sonhava em cantar ópera profissionalmente.
Apesar de sua formação erudita, a realidade da Coreia da década de 1920, ainda sob domínio japonês, limitava suas possibilidades. As oportunidades artísticas eram escassas e as normas sociais eram ainda mais restritivas para mulheres. Para sustentar sua família, Yun Sim Deok passou a gravar canções populares e se apresentar em eventos públicos. Mesmo assim, ela se tornou um ícone cultural da época, admirada por sua coragem e sensibilidade artística.
Dentre suas músicas mais famosas está:
Kim Woo Jin: o dramaturgo à frente de seu tempo
Também nascido em 1897, Kim Woo Jin vem de uma família tradicional e rica. Ele era um escritor e crítico literário influenciado pelas correntes do realismo europeu e pelo teatro moderno. Apesar de casado e com filhos, Kim levava uma vida introspectiva e questionava os valores sociais que o cercavam, incluindo o seu casamento por conveniência.
Foi nesse cenário que ele conheceu Yun Sim Deok. Ambos se encontraram no Japão, onde compartilhavam não apenas a mesma língua e cultura, mas também o mesmo sofrimento: o de viver presos às expectativas impostas por uma sociedade que não permitia escolhas individuais.
Entre suas obras mais relevantes está o poema “A Teoria da Vida e da Morte”, confira um trecho:
A Teoria da Vida e da Morte
A vida correndo na imensidão selvagem,
Para onde você está indo?Neste mundo solitário e cheio de sofrimento cruel,
O que você procura?Neste mundo feito de lágrimas,
Será que minha morte será realmente o fim de tudo?Aqueles de vocês em busca da felicidade,
Só a futilidade os aguarda.Essas flores sorridentes e pássaros chorando,
Todos compartilham o mesmo destino.Vida lamentável, absorta em viver,
Você está dançando na lâmina de uma faca.Ah, a juventude é como um punhado de areia,
Que encontramos enquanto surfamos nas ondas da vida.Com toda a sua força, lance-a contra as marés,
Fazendo-as rosnar e uivar.
Confira o poema completo: https://lifeandsoulinspiration.wordpress.com/2023/03/03/the-theory-of-life-and-death/
Um romance impossível

O relacionamento entre Sim Deok e Woo Jin era intenso, mas completamente proibido para os padrões da época. Ele era casado, ela enfrentava críticas constantes por tentar se firmar no mundo artístico e assim, ambos sentiam que suas vidas eram marcadas pela falta de liberdade.
Durante uma viagem de volta ao continente, em agosto de 1926, os dois embarcaram juntos no navio express Shimonoseki-Busan. E, no dia 4 de agosto, eles tiraram a própria vida juntos, pulando no mar do alto do navio. Tinham apenas 29 anos.
A morte do casal chocou a Coreia. Mas ao mesmo tempo, fez deles o símbolo de resistência artística e de uma geração sufocada por regras sociais severas.
A canção que marcou a Coreia
Apesar de seu fim de vida trágico, Yun Sim Deok gravou a música “사의 찬미” (Hymn of Death) antes de falecer, a faixa adaptada da melodia ocidental “Waves of the Danube”, de Ion Ivanovici. A letra falava de solidão, saudade e do peso da vida, e sua interpretação emocionada ganhou novos significados quando se soube de sua morte.
A gravação se tornou um sucesso imediato, vendendo mais de 100 mil cópias, um grande feito para a época. A canção é considerada o primeiro grande hit da música coreana moderna e carrega até hoje o peso simbólico de uma despedida.
A adaptação para TV
Em 2018, a emissora SBS decidiu transformar essa história real em um mini drama. Com apenas três episódios, Hymn of Death conseguiu emocionar ao retratar não apenas o romance proibido entre Sim Deok e Woo Jin, mas também a luta dos dois como artistas e indivíduos que buscavam um lugar no mundo.
Lee Jong Suk interpretou Kim Woo Jin com uma melancolia contida e uma sinceridade tocante, enquanto Shin Hye Sun deu vida à sensível e determinada Yun Sim Deok. A fotografia do drama, os diálogos poéticos e a trilha sonora delicada criam uma atmosfera que combina com o tom trágico da narrativa real.

Mas qual é a razão dessa história ainda importa?
A história de Hymn of Death não é apenas sobre amor, é sobre liberdade. Sobre dois jovens que não puderam viver conforme seus próprios desejos e que optaram por morrer juntos como forma de protesto silencioso.
Em um mundo que ainda impõe julgamentos e limitações às escolhas individuais, especialmente quando envolvem arte, amor e identidade, a história de Yun Sim Deok e Kim Woo Jin continua extremamente relevante.
Eles deixaram uma canção e um legado. E através do drama, essa história foi resgatada e reapresentada a uma nova geração que talvez nunca tenha ouvido falar desse casal real.
Para saber mais:
Se você se interessou pela história de Yun Sim Deok e Kim Woo Jin, pode explorar mais através dos seguintes recursos:
- Yun Sim Deok – Wikipédia: Informações detalhadas sobre a vida e carreira da soprano.
- Kim Woo Jin – Wikipédia: Detalhes sobre o dramaturgo e sua obra.
- Hymn of Death – Netflix: Assista à mini drama que dramatiza essa história real.