Melo Movie: Quando a vida e o cinema se entrelaçam em uma história de amor e cura

A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Essa dúvida, que atravessa séculos de reflexão, é justamente o que Melo Movie provoca em mim. Lançado pela Netflix em 2025, o drama de apenas 10 episódios nos leva a refletir sobre os limites entre o real e a ficção. Ao misturar as sutilezas do cotidiano com a grandiosidade do cinema, a obra nos faz questionar: seríamos nós os roteiristas de nossas próprias vidas, ou seria a vida, com seus altos e baixos, uma simples repetição das tramas que vemos nas telas?
O drama não é apenas sobre o vaivém dos casais e suas relações, mas sobre algo mais profundo: a busca incessante por significado e crescimento. Melo Movie não só captura o amor e a dor, mas também a arte de viver, onde cada gesto, cada palavra, é um novo ato de reinvenção. Os casais, em suas imperfeições e contradições, mostram como o amor e os vínculos humanos podem ser tanto curar quanto ferir.

A história de Ko Gyeom (Choi Woo Shik) e Mu Bi (Park Bo Young) é a mais suave e terapêutica, onde ambos carrega os fardos do passado e buscam no amor uma forma de reconstrução. Gyeom, marcado por inseguranças de infância e imerso no mundo do cinema, encontra em Mu Bi, uma diretora que também enfrentou traumas familiares, o apoio pra entender e transformar sua dor, enquanto ela, por sua vez, se encontra em um processo de cura ao lado dele. Juntos, reescrevem suas histórias, e o amor entre eles surge como um fio invisível que costura as feridas do passado, transformando-as em uma nova chance de redenção, como um filme que, ao ser editado, se torna uma metáfora de recomeço e superação.
Em Melo Movie, a vida, assim como o cinema, é uma forma de cura. A câmera, que captura mais que gestos e paisagens, captura o invisível — as cicatrizes que não se vêem, mas que estão em cada olhar, em cada toque. Gyeom, em sua busca por respostas, tenta reescrever a dor de Mu Bi como se sua vida fosse um roteiro aberto à edição. Não é só uma história de superação, mas uma história de reconstrução. Como no melhor dos filmes, a vida se reinventa, oferecendo aos personagens a chance de um novo começo, onde o amor é sempre a chave.
No entanto, Melo Movie também revela a face mais crua e sombria dessas facções. O casal Si Jun (Lee Jun Young) e Ju A (Jeon So Ni), em sua dor e separação, nos mostra o lado do amor que não se transforma. Sua relação é como um filme inacabado, sem resolução, onde o passado ainda vive e o futuro parece distante. Eles representam a parte da vida que não se edita facilmente, onde o luto e a separação se tornam marcas difíceis de apagar. Ao contrário de Gyeom e Mu Bi, que encontram na arte uma forma de cura, Si Jun e Ju A vivem em um roteiro sem fim, onde a dor permanece, persistente e real.

Essa escolha narrativa acaba deixando o ritmo do drama mais lento em certos momentos. Algumas resoluções de arcos não são tão bem desenvolvidas, como o luto de Si Jun e a reconstrução de sua relação com Ju A. A narrativa peca, às vezes, ao não dar a profundidade necessária para realmente explorar as emoções de seus personagens, especialmente no caso de Ju A, cujos dilemas internos são pouco abordados, tornando seu sofrimento um tanto unidimensional. Essa falta de profundidade enfraquece o impacto emocional da trama, fazendo com que parte da jornada deles se arraste sem evolução.
E é nesse contraste que o drama me fez refletir: a arte não apenas imita a vida, mas pode, por vezes, nos antecipar A arte reflete nossas escolhas e nos oferece a possibilidade de uma reinterpretação. Já a vida, tal qual o cinema, pode ser reeditada, como se cada novo ato fosse uma chance de transformação, de redenção. Enquanto o filme, como a vida, está em constante processo de reinvenção. Assim como um diretor ajusta o corte de uma cena, também nós podemos escolher nosso caminho, revisitar nossa história e, talvez, escrever um novo final.
Não posso deixar de mencionar uma das histórias que mais me tocaram: a história do irmão mais velho de Gyeom, Ko Jun (Lee Jae Wook), que traz uma reflexão sobre a conexão entre irmãos marcada por sacrifícios e um amor contido. A trama do Ko Jun é como aquele momento em que o diretor decide que o corte final vai ser aquele. Assim como um diretor ajusta o corte da cena a gente também pode ajustar nossa história, mas e quando o filme já está concluído para o diretor? Quando o filme já está concluído e vai para os cinemas, não há muito mais o que fazer, o diretor não pode mais ajustar ou reinventar, ele só precisa receber as consequências disso, as críticas. Não seria assim para o Ko Jun também? Ele disse na carta “Eu quero viver de novo”, ele não queria a oportunidade para fazer um novo filme? Ele não queria a oportunidade de não ter feito aquela escolha? Aquele recorte que se arrepende? Ficam muitos questionamentos.

Existem momentos que a vida se finda assim como os filmes, os filmes não vão constantemente ser ajustados para sempre. Será que deveríamos fazer de nossas vidas vários filmes consecutivos? Quando um termina, começamos outro? Ou será que nossa vida é só um longo ou curto filme? Será que existem pessoas que vivem somente um filme, sem a oportunidade de outros? Mas, nem sempre podemos ajustar nossa vida como queremos, somos os protagonistas dela, e a decisão de nos tornamos protagonistas é importante, assim como Gyeom fez, mas existem acontecimentos que não podemos controlar. A morte é um deles. Talvez Gyeom e Mu Bi falem no carro sobre como a morte é ruim, porque é uma das coisas que está fora do nosso controle. Será que o filme é sempre totalmente controlado? Não seria essa diferença para a vida? Gyeom nos mostra que os filmes são incríveis, mas que não é possível viver como eles, porque nos filme tudo tem uma ordem e uma justaposição, essa capacidade de colocar tudo no lugar e poder fazer o que quiser, era o que acalmava o Gyeom, para Mu Bi, o amor que emanava desses filmes era o que ela nunca teve, e que a acalmava. Os filmes não foram para eles uma forma de possuir o que não tinham? De se prender na realidade que desejavam? Enfim, são somente reflexões.
A cinematografia de Melo Movie é uma das maiores forças da obra. O drama utiliza a linguagem cinematográfica perfeitamente, transformando a tela em um espelho dos sentimentos mais profundos dos personagens. A câmera, longe de ser apenas uma ferramenta para capturar cenas, se torna um elo entre a vida real e o filme, aprofundando a reflexão sobre os aspectos emocionais e humanos da narrativa. Cada cena é cuidadosamente construída para capturar não apenas os gestos, mas as emoções mais sutis, e a iluminação, os enquadramentos e as cores são usados de forma a criar uma experiência visualmente marcante.

A atuação do elenco é impecável! Eles não apenas vivem seus personagens, mas transmitem suas emoções de forma visceral. As atuações são mais que uma representação, são a própria essência da dor, da superação e do amor. Cada expressão, cada movimento, nos envolve profundamente, nos tornando parte dessa história que se desdobra diante de nós, como um filme que nunca termina.
Ao longo de Melo Movie, somos lembrados de que a vida, assim como o cinema, não é feita de finais perfeitos. Não é um conto de fadas. É, antes, uma jornada de aprendizado, de erros e acertos, de feridas que cicatrizam e de amores que se transformam. A arte de viver não é sobre alcançar a perfeição, mas sobre aceitar as imperfeições, perdoar, e, acima de tudo, curar.
E assim, a eterna pergunta se a vida imita a arte ou a arte imita a vida ganha uma nova camada. Talvez, em sua essência, a arte e a vida não sejam opostas, mas sim entrelaçadas. Ao terminar este drama, percebemos que, sem dúvidas, a arte e a vida se completam, pois ambas são histórias que ainda estamos por escrever, e, como nos melhores roteiros, a chance de recomeçar está sempre ao nosso alcance.

Assista Melo Movie na Netflix!
Confira as 3 melhores citações de Melo Movie:
“Às vezes, quando tem algo muito precioso por perto, você tenta fazer pouco caso porque vai além do que você consegue lidar”
“Sabe, a dor da perda é assim. No começo, tanta coisa acontece que não te atinge. Mas quando você precisa daquela pessoa desesperadamente e percebe que ela não está mais lá… é quando a dor realmente começa”
“Nos conhecer tão bem deve ser uma infelicidade. esse tipo de relação pode ter muito amor, mas também pode magoar demais e não pode deixar de perceber que o fim está próximo”