Goong: Ainda vale a pena assistir em 2025?

Há dramas que se tornam referências por aquilo que representam, não necessariamente pelo que entregam. Goong, ou Princess Hours, é um desses casos. Lançado em 2006, foi um dos primeiros grandes sucessos da Hallyu a cruzar fronteiras e despertar o interesse por k-dramas mundo afora. Hoje, quase vinte anos depois, é natural que muitos se perguntem: ainda vale a pena assistir?
A resposta exige cuidado, e talvez também uma certa generosidade.
O conto de fadas que fascinou uma geração
Goong se passa em uma Coreia do Sul fictícia onde a monarquia ainda é vigente. A protagonista, Shin Chae Kyung, é uma adolescente comum, sem grandes ambições, até que descobre que está prometida ao príncipe herdeiro, Lee Shin, por conta de um acordo feito entre seus avós. De um dia para o outro, ela se vê presa dentro de um palácio que não compreende, casada com um jovem arrogante e emocionalmente inacessível, e obrigada a aprender a viver entre coroas, tradições e intrigas.
É fácil entender por que essa história cativou tantos corações. A fantasia de um “casamento arranjado com o príncipe” se alia a elementos clássicos do romance adolescente: rivalidade amorosa, descoberta de sentimentos e amadurecimento. A fotografia de época e a direção artística são marcantes, com palácios deslumbrantes, roupas tradicionais e uma aura de conto de fadas permeiam toda a obra.
O que Goong ainda tem de especial?
1. Um marco histórico do k-drama romântico

Assistir Goong é como revisitar as origens de muitos clichês que hoje se repetem em dezenas de outros dramas. A fórmula do príncipe frio e da heroína atrapalhada, do casamento arranjado que se transforma em amor, da rival ciumenta, tudo está lá, cru, original, ainda sem os polimentos das versões modernas.
2. Universo visual elaborado

A criação desse mundo monárquico alternativo é talvez o aspecto mais inventivo do drama. Não se trata apenas de um cenário decorativo: a cultura fictícia da realeza, com suas regras, cerimônias e pressões sociais, constrói um pano de fundo interessante para discutir temas como dever, identidade e liberdade.
3. Trilha sonora memorável e momentos icônicos

A música “Perhaps Love” ainda é lembrada com carinho por muitos fãs, e algumas cenas (como os momentos silenciosos entre o casal ou as lágrimas contidas da heroína) são genuinamente comoventes. Há beleza, mesmo quando falta profundidade.
Mas… por que talvez não valha mais tanto a pena?
1. Um ritmo que não conversa com o presente

Goong tem 24 episódios, muitos deles recheados de enrolações. Em 2025, onde os roteiros estão mais concisos e as narrativas mais ágeis, é difícil manter o interesse com tantos episódios onde pouco acontece. O desenvolvimento emocional é lento, e os conflitos se repetem sem grandes viradas.
2. Relações que envelheceram mal

O protagonista masculino, Lee Shin, é inicialmente frio, indiferente, e por vezes cruel com Chae Kyung. Seu comportamento, tratado como charme na época, hoje soa emocionalmente abusivo em vários momentos. A romantização do sofrimento da protagonista que chora sozinha, aguenta desprezos e se adapta à dor, torna o romance, em muitos trechos, desconfortável de assistir.
3. Personagens rasos e pouco evoluídos

Chae Kyung começa como uma jovem cativante e espontânea, mas sua trajetória se dilui em lágrimas. O drama promete um amadurecimento que nunca se concretiza de fato. Lee Shin, por sua vez, tem lampejos de vulnerabilidade, mas seu arco é inconstante. Os coadjuvantes, especialmente os antagonistas, são caricatos e previsíveis.
E o veredicto é…

Em vez de perguntar “vale a pena assistir?”, talvez devêssemos perguntar: por que queremos assistir?
Se a intenção é entender como os k-dramas evoluíram, observar onde certos clichês começaram, ou simplesmente matar a curiosidade sobre esse clássico tão citado, Goong pode ser uma experiência interessante. Mas se o objetivo é se emocionar com uma história bem escrita, mergulhar em um romance envolvente ou refletir sobre temas atuais, talvez seja melhor procurar entre os dramas mais recentes.
Goong pertence a um tempo e a um contexto muito específicos. Assistir em 2025 pode ser como folhear um álbum de fotos antigas: há charme, há memória, há valor histórico, mas também há distância. E nem sempre é fácil atravessá-la.