Will Love in Spring: o nascimento de um amor urbano em meio aos belos dias de primavera

Will Love in Spring: o nascimento de um amor urbano em meio aos belos dias de primavera

“Às vezes, como seres humanos, temos que aprender a ser egoístas. Se você viver toda a sua vida pelos outros, o que acontecerá quando você envelhecer e morrer um dia? Quem você pode encontrar? Com quem você pode se reunir?”

Em algum momento você já pensou que a morte pode não ser tão macabra como sempre acreditamos ser? Tudo bem, perder pessoas queridas não é fácil para ninguém e, lidar com a saudade daqueles que estiveram conosco por tanto tempo é difícil (digo por experiência própria), porém, a morte – sem dúvidas – é a única certeza que temos na vida, e esta é apenas uma das inúmeras reflexões que temos nesta bela produção chinesa. Contando com apenas 21 episódios, o c-drama “Will Love in Spring” (Amor à primavera) – que foi produzido pela Tecent Vídeo – é um romance urbano entre um embalsamador com uma personalidade indisciplinada, mas solitário física e mentalmente, e uma vendedora que é uma deficiente física corajosa e deslumbrante.

No drama, somos apresentados a Chen Mai Dong (Li Xian), uma homem ‘frio’ que não fala muito e não gosta de rir devido à sua carreira nada ‘convencional’. Chen teve uma família infeliz quando criança, o que resultou em ele ser distorcido e teimoso na adolescência. Seu processo de crescimento e amadurecimento foi doloroso, no entanto, por baixo dessa casca dura, Mai Dong sempre teve um coração muito caloroso. Logo, ele é um personagem com muitas camadas dada a sua personalidade fria por fora e quente por dentro, mas que mostra que apesar de todas as perdas e infelicidades sofridas (e da feição fechada) ele é uma pessoa doce, apenas esperando alguém que lhe desse a chance de amar e ser amado reciprocamente.

Já Zhuang Jie (Zhou Yu Tong) é o tipo de pessoa que, à primeira vista, parece tão brilhante quanto o sol, mas quando você se aproximar, descobrirá que ela também tem sua própria solidão e baixa autoestima, e o seu sorriso brilhante é sua frágil capa protetora e, esse tipo de brilho se mistura com uma sensação de fragilidade, que combina perfeitamente com a teimosia da personagem. Ela precisou lidar com muitas batalhas, tanto internas quanto externas e, assim, mostrar ao mundo que a sua deficiência não era motivo para que tivessem pena dela. Mas apesar de suas dores, ela sempre faz com que as pessoas reflitam sobre suas atitudes, deixando claro que um passado sofrido não fará com que você tenha o direito de magoar os outros.

A trama também transcende quando cria personagens tão feridos quanto Chen Mai Dong e Zhuang Jie. Em comparação a apresentação ‘comum’ dos personagens dos dramas chineses, pessoalmente sinto que os protagonistas deste drama são feridos e imperfeitos, mas são reais. Um embalsamador que evita inconscientemente o contato com outras pessoas; uma pessoa que perde uma perna em um acidente de carro e usa um sorriso brilhante para encarar os outros. As narrativas deles mostram um pouco as falhas e acertas dos seres humanos, no sentido que, mesmo que inconscientemente e querendo acertar, eles ferem um ao outro, mas também acertam e pedem desculpa, mostram a importância de não prender o outro tal qual contam aos telespectadores que tudo bem ser egoísta às vezes, afinal, se você não pensar no seu próprio bem, quem fará isso por você?

Atrelado a isso, também vemos o crescimento dos dois, não só em conjunto, mas em suas essências pessoais. A partir da ligação entre as boas memórias da juventude que compartilhavam e a idade adulta, o reencontro deles é um processo apaixonante. O Mai Dong ainda é o menino que aprendeu sozinho que “uma muleta também pode ser uma arma”, e a Jie ainda é a luz que ilumina o menino rebelde. O drama mostra que, à medida que crescemos, a alma de todos gradualmente se torna solitária, mas eles sempre anseiam por alguém que os compreenda e traga carinho, mesmo que não seja um parceiro romântico e apenas um amigo ou parente. A cumplicidade que os protagonistas são um ao outro é surreal, eles sempre deixam claro suas intenções e limites, são o tipo de casal que mesmo que não tivessem deixado claro que se casariam, é uma certeza que teríamos de que eventualmente aconteceria, e isso é o que me faz gostar ainda mais dessas personagens. 

Outra coisa que me deixou satisfeita é a forma como toda a história molda a carreira do protagonista masculino. Quando li que retrataria a indústria funerária, pensei que seria muito deprimente (apesar de confiar nas escolhas de roteiro do Li Xian), mas felizmente foi bem retratado. A reverência de Chen Mai Dong pela morte e pela vida pode ser sentida em cada pequena parte da história, explicando pacientemente o significado da morte e da existência, respeitando os costumes de cada membro da família falecido e tratando cada falecido com seriedade, etc. pode me trazer para essas histórias e sentir o encanto da vida e a vastidão da morte juntos.

O tema da morte também é apresentado de muitas maneiras inspiradas na vida. Não se trata de empurrar a morte na sua cara para lhe ensinar como a morte é terrível, mas sim de levar as pessoas a perceberem, a partir do momento da separação, qual é o verdadeiro significado da morte. O que ela traz e o que tira, o que mais podemos fazer além de escapar da dor? Leva as pessoas a compreender o tema da morte e envolve cada coração frágil com emoções de caráter calorosas e curativas. Conta outro olhar sobre a morte e percebe com tranquilidade a preciosidade e a beleza da vida.

O drama também mostra aqueles momentos reais, comoventes e com um toque humano (e também com um ‘que’ reflexivo bem grande). A temperamental Tia Wu, os irmãos e irmãs mais novos da protagonista  que brigam entre si em batalhas diárias de inteligência, a honesta e interessante vovó Chen, as amigas que constantemente fofocam e reclamam, a família barulhenta, essas são as mais realistas representações da vida cotidiana. As imagens e a vida cotidiana dos personagens podem facilmente evocar memórias calorosas. Zhuang Jie ria e brincava durante o dia, mas à noite ela ainda sentia dor e tristeza enquanto abraçava as pernas no banheiro. Enquanto Mai Dong tinha que lidar constantemente com a tristeza daqueles que o cercavam.

A cura calorosa é o pano de fundo da história, e a redenção bidirecional e o bom gosto são o fio condutor dos personagens. Essa história baseada no romance não só tem o vínculo emocional entre as pessoas, mas também tem uma nova interpretação da morte, do embrulho, do mundo com ternura, para que os telespectadores sintam o poder curativo da primavera.

Para além de todos os elogios que já fiz a esta narrativa, ela também é primorosa em uma coisa que sempre gosto de notar (e comentar) em minhas resenhas: a direção fotográfica. O diretor de “Will Love in Spring” não dormiu em serviço, ele usa luz, sombra e composição para apresentar a fusão de pessoas e cenários na pequena cidade, e usa as lentes para registrar o romance que pertence à pequena cidade. E logo nos primeiros episódios isso é notório, assim que somos apresentados a cidade, vemos um cenário que transpõe calor e cura, pois a vista panorâmica da cidade, aliada aos tons claros do sol, proporciona às pessoas uma sensação de conforto e conforto como poesia em prosa pastoral. Além de, é claro, apresentar o ritmo lento e aconchegante de uma pequena cidade.

Porém, apesar de ainda ter muitos elogios a fazer a trama, também tenho críticas, como a questão de ter sentido a narrativa levemente corrida no final, realmente queria uma discussão melhor trabalhada entre os protagonistas no final, uma vez que achei arrastado a questão da volta dela para Xangai. Também queria uma maior visibilidade para o casal secundário, eles tinham questões particulares realmente importantes de serem tratadas.

Assim como “Meet Yourself” (2023) e “Amidst a Snowstorm of Love” (2024), sem dúvidas, “Will Love in Spring” é um dos dramas chineses que mais gostei de assistir, ele consegue entregar um slice of life de qualidade, unindo um casal secundário e principal encantadores, boas atuações e reflexões importantes. Além, é claro, de nos magnetizar com a química avassaladora entre Zhou Yu Tong e Li Xian (é sério gente, esses dois entregaram tudo e mais um pouco em questão de química  e atuação).

Alguns acreditam que a morte não é o fim da vida, mas sua conclusão. No entanto, a maioria se recusa a falar sobre a morte, fazer um testamento ou assinar uma ordem de não-ressuscitar com antecedência. Tudo isso decorre do medo da morte. Mas uma morte despreparada pode interromper todos os planos. Não resta chance de expressar verdadeiros sentimentos aos entes queridos ou deixar palavras para as famílias. Quanto mais cedo percebermos que a morte é inevitável, mais tranquilamente podemos nos preparar.”

“Will Love in Spring” (Amor à primavera) está disponível em streamings como Rakuten Viki e WeTV.

Alice Rodrigues

Estudante de Comunicação social – Jornalismo, e atuando como social media, criadora de conteúdo digital e assessora de imprensa. Além de amar conhecer novas culturas, é viciada em ler e ouvir inúmeros podcast de assuntos variados. Dorameira desde de 2016, adora acompanhar e analisar narrativas e conteúdos que fazem parte da criação de um drama (elenco, filtros usados, fotografia, simbologia das cenas e outros).

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