Queen of Tears: o (re)descobrimento do amor em meio as suas dores

“Colocamos ênfase em nossos momentos felizes. Mas não sabemos o que o futuro nos reserva. Então fazemos promessas que não podemos cumprir e rimos como se esses momentos felizes fossem durar para sempre. No entanto, há um lado escuro por trás desses momentos radiantes”
Como seria viver sem as suas memórias? Você seria a mesma pessoa que era antes de perdê-las? Os sentimentos continuam ali mesmo sem as preciosas memórias com as pessoas em questão? Pois bem, esse é apenas um dos questionamentos e lições que Queen of Tears apresenta aos seus telespectadores. Lançado em entre março e abril de 2024 e contendo 16 episódios (+ 2 episódios especiais), a produção coreana acompanha o casal Hong Hae In e Baek Hyun Woo, que após cinco anos de casamento enfrentam a maior crise da relação: uma separação iminente e o assombro de uma doença terminal.
Romance, Drama, Comédia, Drama Familiar, Suspense, Vingança, Mistério, esses são alguns dos gêneros que você encontrará nesta produção. A narrativa captura lindamente a essência das emoções humanas, tecendo uma história que ressoa profundamente nos espectadores, evocando lágrimas de tristeza e alegria, para que assim, o público seja submerso em um mundo onde o amor, a dor e a redenção se entrelaçam. Inicialmente, você pode se ludibriar acreditando que Queen of Tears seria uma comédia romântica, no entanto, tal qual o título literal da produção (Rainha das Lágrimas), o que você mais fará é chorar. O choro vem da dor de ver um casal se esquecer de tantos momentos bons juntos, do alivio ao ter a pessoa amada ao seu lado, de vê-los se ferirem a fim de proteger um ao outro, da dor de saber que uma vida tão bela pode chegar ao fim e até mesmo com as injustiças que o drama apresenta. Independente da razão, sem dúvidas, você vai chorar.
Veja bem, Queen of Tears engendra uma relação preciosa entre o que lembramos, a forma de rememorar, de viver e as lágrimas como expressão dos sentimentos, como um mar que escorre de nossos olhos quando já não é possível colocar tudo em palavras ou quando já não é possível lembrarmos de tudo. Lembramos porque precisamos lembrar. Choramos não apenas quando estamos tristes, choramos porque precisamos esvaziar e transbordar sentimento. TRANSBORDAR. Talvez seja isso que Queen of tears quer dizer: para gente viver e colecionar momentos felizes a ponto de transbordarmos. Mas, mesmo que não consigamos ser felizes o tempo todo, dificilmente seremos, não podemos perder a oportunidade de estar vivo e nos reconciliar com quem amamos. As lembranças são fortes, pois faz parte de quem nós somos, mas só lembramos dos momentos felizes porque temos pessoas fincadas em nossos corações, por mais que não nos lembramos, eles ainda estão lá. Recordar é viver, mas sorrir e se debulhar em lágrimas é um ato de exprimir até mesmo o que não conseguimos lembrar ou expressar.

Na trama acompanhamos Baek Hyun Woo (Kim Soo Hyun) e Hong Hae In (Kim Ji Won), que são dois personagens imperfeitos. Vemos o casal que iniciou um romance no ambiente de trabalho e viveu em seu próprio mundinho por algum tempo antes da realidade discrepante de suas famílias intervirem no relacionamento. Por mais que o amor estivesse presente, algumas situações e palavras não ditas fizeram o relacionamento começar a ruir. Gosto que os protagonistas sejam assim, pois retratam um tipo de relacionamento muito realista entre duas pessoas. É muito real que um relacionamento entre casais pode facilmente desmoronar, especialmente se houver falta de comunicação e compreensão.
Hyun Woo estava farto de ter sua vida limitada pelos rigores e escrutínio de fazer parte da elite rica da Coreia do Sul e acreditava que Hae In priorizava a ambição ao invés das pessoas. Assim, tomou a decisão de se separar, mas com a notícia da doença da esposa, ele vê uma oportunidade de se dar bem. Junto ao personagem de Kim Soo Hyun choramos bastante (muito mesmo), primeiramente pela dor que ele sentia ao odiar a mulher que jurou amar eternamente, depois, choramos por sua (re)descoberta do amor, tal qual choramos por alívio, por medo, pela injustiça e até mesmo choramos de felicidade com ele. Para Hyun Woo a Hae In era o grande amor de sua vida, mas as palavras não ditas fizeram com que ele pensasse nela como sua grande inimiga, para depois, relembrar o quanto o quanto ela era importante.
Hae In é uma mulher fria, mas não insensível. Assim como o marido, ela também foi afetada pelas palavras não ditas pelo passado, não só por aquele que ela prometeu apoiar e estar junto nos bons e maus momentos, mas sim, por toda sua família, que sempre colocou ela em um lugar de pessoa forte que não precisava de carinho ou de cuidados. Por mais que estivesse ciente do mau andamento do seu casamento ela não abria mão do marido, não só por saber no seu íntimo que ainda o amava, mas por priorizar ter ao menos uma pessoa ao seu lado e, quando descobriu sua doença, se agarrou nele pela esperança de que alguém poderia sentir sua falta. Junto a personagem de Kim JI Won choramos pela dor de saber que sua vida poderia chegar ao fim de uma maneira tão cruel e precoce, choramos pela vida solitária que ela leva e por todas os tombos e perdas que teve que suportar durante sua trajetória. Para Hae In, o Hyun Woo não era só seu grande amor, mas sim, a pessoa que ela tanto precisava ao seu lado, era o seu destino que foi balançado pelas palavras não ditas.
Aos poucos vamos entendendo que Hae In não é o ‘espelho indiferente’ e até odioso de sua família – apesar do Hyun Woo afirmar que é. Ela não é tão estóica diante de sua própria mortalidade quanto parece. A cara corajosa é só uma fachada erguida para lidar com as pessoas abusivas e negligentes em sua vida – sejam elas sua família, seus concorrentes ou até mesmo o seu marido. Hae In estava esperando que Hyun Woo estivesse lá para apoiá-la, afinal, ele é o cara em que ela mais confiava apesar de estarem afastados. Quando sua doença começa a avançar, nós a vemos como a mulher vulnerável e extremamente solitária que é. É comovente e único, a capacidade de Kim Ji Won de alternar entre aquela frente instável e o medo palpável à medida que seus sintomas pioram, trazendo toda a vulnerabilidade silenciosa que a tornou tão atraente em My Liberation Notes, é incrivelmente emocionante.

Queen of Tears é uma abordagem nova e transformadora, mas que ainda assim traz as raízes dos k-dramas antigos (Não esperaria menos da Park Ji Eun). O que começa como uma tentativa de se libertar de seu casamento faz Hyun Woo redescobrir por que se apaixonou por Hae In. É previsível, mas surpreendentemente humano. O desenvolvimento dos protagonistas ao longo do drama foi particularmente notável, mostrando a disposição deles em se reconciliar, reconstruir e se comunicar. A importância das desculpas, das declarações de amor e da capacidade de nutrir sentimentos profundos de ressentimento enquanto ainda ama alguém são retratados de forma pungente.
Se há uma coisa que os K-dramas fazem melhor do que qualquer outro formato, é misturar gêneros para criar novas combinações. Queen of Tears faz algo assim, só que em vez de gêneros mistura o familiar e o romance. Logo, para além da ligação romântica do drama com o casal principal, há também a representação das relações familiares entre pais e filhos, maridos e esposas e irmãos, que sublinha a ideia de que as nossas vidas são moldadas não apenas pelas nossas ações individuais, mas também pelas ligações que formamos com aqueles que nos rodeiam. Logo, “Queen of Tears” não é um mero clichê como algumas pessoas disseram, não é apenas uma comédia romântica ou um conto de fadas, mas é uma narrativa sobre o amor dos pais, um relacionamento entre irmão e irmã, e a relação marido e mulher, onde o amor muda devido às circunstâncias e à falta de comunicação. O drama mostra que você, eventualmente, perceberá que não importa quão dura seja a vida, em algum lugar sempre há alguém que vai chorar, ficar com o coração partido e trocar tudo por você.
As atuações do drama foram um show à parte, todos sabemos, o elenco fez um trabalho fantástico retratando cada um de seus personagens. A Kim Ji Won é verdadeiramente uma “Rainha” no título “Rainha das Lágrimas”, da aparência à atuação, em todos os aspectos a atriz atigiu a maturidade e a perfeição. Cada quadro em que ela aparece, desde sua aparência arrogante e decidida ao dirigir a empresa até sua beleza clara e ensolarada quando ela começou a namorar Hyun Woo, tudo é vibrante e nostálgico. Sua atuação ocular é excepcional, ela realmente pode interpretar uma chefe brutalmente fria, uma garota sensível e vulnerável em apenas um episódio.
Enquanto isso, Kim Soo Hyun apenas provou – novamente – a razão pela qual ele é o ator mais bem pago, suas cenas emocionais foram memoráveis e era realmente incrível compreender todos os sentimentos de frustração, amor, carinho e muito mais. A química entre Kim Soo Hyun e Kim Ji Won foi extraordinária: o relacionamento de seus personagens passou por tantas fases e eles conseguiram fazer com que a gente transborde com sentimentos variados enquanto apenas torcemos por seus momentos de tranquilidade e felicidade.

Não poderia deixar de mencionar, é claro, o Park Sung Hoon. Seu personagem era cruel e emblemático, um passado e presente regado de mentiras e tramoias, mas que, no fundo, ainda era a mesma criança que fora deixado pela mãe, ansiando por amor e por ter uma pessoa ao seu lado que desse o que ele mais queria: amor. Não acho que o que ele buscava era necessariamente um amor romântico, ele queria – na verdade – se tornar necessário. Como se ter alguém para proteger tornasse a presença dele importante, a ponto de não ser abandonado. O personagem gosta da Hae In porque ela olha para ele, o enxerga, quando ele se sente invisível e abandonado. É como uma fagulha de acalento no meio de tanta dor e inferioridade. Ele quis ela porque ela o viu, porque ela tem tudo que ele queria, porque ele se sentiu importante. Porém, em algum momento seu “cuidado” e “amor” foi transposto para a obsessão, e por isso não podemos deixar de me angustiar com o personagem, pelo seu passado difícil, por quem ele se tornou ou pelas injustiças que cometeu.
Outro dos pontos positivos do drama, sem dúvidas, é a primorosidade de sua fotografia e direção, todas as cenas eram interligadas de alguma forma com transições memoráveis, além – é claro -, do uso positivo das cores dentro da narrativa, seja na casa da família dela que era em tons neutros e frios, denotando a solidão e frieza dos personagens, enquanto tanto o apertamento do Hyun Woo quanto a casa de sua família eram mostrados em um tom alaranjado, mostrando o calor familiar e o aconchego que ambos emanavam.
Além disso, é preciso elogiar a Park Ji Eun, como sempre, seu roteiro superou as expectativas, não só ajudando o drama a alcançar um novo marco na audiência para a tvN, mas também inovando com mais uma de suas obras. Entretanto, também não posso deixar de mencionar, que assim como em seus roteiros anteriores, há algumas falhas neste. Por mais que ela sempre entregue tanto falas quanto cenas memoráveis, a Ji Eun sempre tem o mesmo erro nos roteiros: o pouco desenvolvimento na reta final. Veja bem, eu gostei de como tudo foi retratado, mas creio que a mesma poderia ter explorado melhor os recursos que deixou em aberto em episódios passados, seja para resgatar uma fala, um vídeo ou tudo mais.
Ainda há muito a ser falado sobre esse drama, seja sobre o casal secundário liderado por Kwak Dong Yeon e Lee Joo Bin, seja elogiar detalhadamente a atuação da Lee Mi Sook, as amizades fiéis de ambos protagonistas, as osts (que estão simplesmente incríveis, por favor, deem play em The Reasons of My Smiles do BSS, é uma das minhas osts favoritas do drama), falar sobre como a Kim Hee Won arrasa em sua direção (Ela arrasou na direção de Vincenzo, sabíamos que ela ia dar tudo e mais um pouco) e muitos outros pontos. O fato é: Queen of Tears entrou no meu ranking de melhores dramas de 2024. Para além da narrativa, todo o conjunto foi bem pensado e executado. Logo, se você gostou de dramas como “Crash Landing On You” (2020) ou até mesmo “Marriage Contract” (2016), há a possibilidade de gostar dessa produção que pode ser resumida como um drama comovente e viciante, com um casal magnetizante.

Queen of Tears/Rainha das Lágrimas pode ser assistido através da Netflix.
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