Lovely Runner: O tempo, a chuva e o florescimento do amor

Lovely Runner: O tempo, a chuva e o florescimento do amor

“Você é um presente enviado pelos céus. Eu vou te proteger da solidão deste mundo. Um dia, de repente, como numa chuva repentina, você caiu dos céus” 

Im Sol é uma grande fã do vocalista principal da banda Eclipse, Sun Jae. As palavras do cantor confortaram nossa protagonista quando recebeu a notícia que teria que ficar em uma cadeira de rodas para sempre. Ela sabe que só está viva pelo apoio que Sun Jae transmitiu, assim, quando o músico cai da sacada de um hotel e morre, Sol ganha a oportunidade de viajar no tempo, através de um relógio antigo, para a época em que ainda era uma estudante do ensino médio. Lá ela reencontra Sun Jae como seu vizinho e estudante de uma escola próxima da sua e precisa impedir sua morte.

Lembro de quando assisti o primeiro episódio de Lovely Runner, não pude impedir as lágrimas de rolarem do meu rosto, eu não esperava que isso fosse acontecer. Existe uma força intrínseca na história de Sun Jae e Sol, ela nos impele a chegar mais próximo, a simpatizar com tudo o que é contado. É como uma injeção de positividade, um sol que aparece depois de um dia nublado. Revigorante. Cheia de mensagens encorajadoras. Poética.

Para salvar Sun Jae, a Sol tem que viajar no tempo diversas vezes, ela volta para o passado, altera algumas coisas e outras não saem como ela queria e retorna novamente. Lovely Runner possui esse caráter cíclico, como os ponteiros de um relógio que vão e voltam, mas se ajustam no seu devido lugar. O tempo possui um lugar especial nessa história, a ânsia para que ele passe, o desejo de sobreviver ao longo dele, o tempo contado que é experienciado pelos personagens, o tempo precioso que devemos aproveitar e a transcendência temporal. Será que é possível vencer o tempo? Quanto tempo nos resta para desperdiçar? E se você pudesse voltar no tempo?

Desde o primeiro momento até o último momento, Lovely Runner grita para nós “vamos ser gratos por vivermos”, “gratos por estarmos no mesmo espaço de tempo”, “orgulhosos de podermos desfrutar de memórias inestimáveis com quem amamos”. O tempo passa, temos medo de sua imensidão, queremos um relógio com um tempo infinito de presente, mas será que… enxergar e apreciar a finitude do tempo não é o que existe de mais importante para nós? 

Afinal, nossos protagonistas compartilham momentos belos e revigorantes em cada espaço de tempo que se encontram. Parece inevitável e transcendental. E a cada momento descobrimos mais sobre os dois, o seu laço e suas memórias que permeiam o tempo. Elas permanecem. E as coisas boas que ficam com nós é o que realmente importa.

Volto imediatamente para quando a Sol encontrou o Sun Jae pela primeira vez, ela veio correndo em sua direção com um sorriso enorme e um guarda-chuva amarelo. Era um dia de chuva normal, e ela o protege da chuva, foi inevitável para ele não se apaixonar. A chuva traz a Sol para o Sun Jae. E a nossa protagonista chega para ele como um verdadeiro Sol. Ilumina tudo. Aquece. 

Contudo, Im Sol também é como uma chuva para ele, que pode lavar tudo que há de ruim e o Sun Jae é para ela também como uma chuva. Afinal, a chuva também pode ser vista de forma positiva e Lovely Runner mostra isso para nós. Nas nossas vidas, os dias de chuvas são inevitáveis, aqueles dias mais difíceis, mas eles passam. Chover, na verdade, é um sinal de que as coisas ruins podem ser superadas, com as gotas da chuva as lágrimas também se vão, tudo se torna mais refrescante. Chover pode ser um presente enviado dos céus. Não há nada melhor do que aproveitar a oportunidade de se molhar na chuva. E depois florescer. 

Não é exagero dizer que o amor de Sol e Sun Jae é como uma chuva e eles florescem juntos a cada segundo, se tornam mais vibrantes, mais felizes quando se unem. Mas também, na composição desse amor não existem somente momentos alegres, os momentos difíceis estão lá, eles sofrem, ainda assim, continuam lutando, esperam os momentos difíceis passar e lidam da melhor forma que conseguem com os dias chuvosos, com seu lado bom e ruim. 

A história de amor entre Sun Jae e Sol também é sobre proteção, o guarda-chuva amarelo, azul e o preto estão na trama para simbolizar isso. A Sol viajou no tempo para proteger o Sun Jae e ele carrega consigo o desejo de proteger seu amor. Quando Sol põe o guarda-chuva amarelo em Sun Jae ela está o protegendo e com a cor vem positividade, alegria, claridade, que é o que a Sol representa para o Sun Jae, mas também a preciosidade do laço de amor que é formado. Quando o Sun Jae coloca o guarda-chuva azul na Sol ele está a protegendo e com o tom vem também a tranquilidade, confiança, segurança que a presença do Sun Jae significa na vida da Sol, mas também aquela incômoda tristeza que a morte dele representa para ela.  Já o guarda-chuva preto também é proteção, mas junto com a cor vem a solidão, dor, distância e a memória emocional dos personagens. 

Logo, há um cuidado por parte da direção em representar o amor de Sun Jae e Sol na cinematografia, tornando tudo mais belo, significativo e forte. Existem muitos detalhes que se encaixam tão perfeitamente, mas que não posso comentar todos nessa simples resenha. A grande virada de chave é que até mesmo as músicas da trilha sonora do drama (e entre elas, obviamente as da própria banda Eclipse) são marcantes e conversam lindamente com a história, não à toa fizeram um sucesso estrondoso. Tudo é muito bonito, agrada os olhos e os ouvidos de quem está assistindo.

Porém, a narrativa não contém somente Sun Jae e Sol, há outros personagens secundários que orbitam em torno dos principais. Contudo, não creio que a trama deles tenha força o suficiente na história a ponto de detalhar para vocês um por um. O que mais vale a menção é o Taesung, um encrenqueiro que se apaixona pela Sol, gostei dele desde o primeiro momento que vi, é um personagem carismático e se torna o tipo de segunda escolha perfeita, ele não atrapalha o casal principal, muito pelo contrário, os ajuda. E ainda nos propicia cenas de ciúmes, fofas e um certo crescimento na narrativa, que poderia ser bem mais explorado.

Inclusive, quando se trata de críticas a narrativa de Lovely Runner, eu diria que o enredo se concentrou bastante na história de amor de Sol e Sun Jae (e isso é maravilhoso), mas ele esqueceu de trabalhar melhor com seus secundários, sinto que eles não tiveram o crescimento bem denotado e eram usados como meros acessórios do enredo, usados e depois descartados para um momento que precisassem ser usados novamente, eles não desaparecem completamente ao longo do drama, mas ainda existem questões em torno deles que perduram.

De uma forma geral, o defeito de Lovely Runner é que faltam explicações, para o assassino, para o elemento de viagem no tempo, tudo parece conveniente demais com o que a história deseja. E, sendo bem sincera, quando cheguei no episódio 13 me senti cansada, sinto que tudo funcionaria melhor se tivesse menos episódios, alguns pontos fossem otimizados e bem aproveitados. Ao assistir Lovely Runner é importante entender que se trata de uma história de amor que transcende o tempo e que os outros elementos se borram diante disso. A viagem no tempo funciona como um acessório para o amor. O assassino como um acessório para respaldar a história de amor. E isso é um pecado, pois, a não ser a história romântica que está translúcida, o resto dos elementos parece incompleto. Um telespectador ávido por muitas respostas pode sofrer com isso. E um que ama romance acima de qualquer coisa, vai ter o que procura.

Tendo em conta que a trama amorosa de Sun Jae e Sol tem esse impacto duradouro em quem assiste, eles protagonizaram muitas cenas lindas, trocam muito afeto e realmente convencem como casal (Sun Jae melhor personagem masculino de 2024, sim! Um príncipe sem nenhum defeito que lutou pela Sol sempre e amou ela lindamente). Lovely Runner tem tantas cenas românticas marcantes e declarações impressionantes, que o nosso coração sente as emoções dos personagens e surta com eles. Byeon Woo Seok e Kim Hye Yoon fizeram um trabalho tão bom em cada lágrima e em cada cena de beijo, a química deles é tão absurda. Definitivamente, devo repetir mais uma vez: o melhor de Lovely Runner é a química desses dois. A naturalidade que eles transmitem em cena fez com que o amor de Sol e Sun Jae parecesse tão forte, tão real e dolorido. Tão bonito e tocante.

Pensando bem, o drama possui esse frescor da juventude, do primeiro amor e das primeiras decisões, mas também detêm o peso da solidão, da despedida e das decisões difíceis. Lovely Runner engendra uma volta nos tempos de juventude dos personagens e permite pensarmos sobre nossa própria juventude, como ela parece ao mesmo tempo brilhante e borrada. Voltamos para o momento que Sol e Sun Jae se conhecem, para o primeiro beijo deles, para as declarações e para o reconhecimento mútuo entre os dois, mas também entendemos a vida em suas diferentes fases. Existe algo muito poético, lírico e romântico na ideia de que alguns encontros são inevitáveis, na concepção que a vida continua e que, como em um dia de chuva, ela muda e manda presentes preciosos. É na continuidade da vida que as novas chances estão contidas. 

Lovely Runner está disponível para ser assistido no Viki, todos os seus 16 episódios legendados.

BÔNUS! Qual a playlist me inspirei e ouvi enquanto escrevia essa resenha? Basicamente:

Sudden Shower – (Eclipse) – a música da banda do drama, não existe muitas explicações ela contém a maioria dos elementos significativos para compreender a história.

Spring Now – (10 cm) – É lindíssima e sempre que toca lembra os momentos do Sun jae e da Sol. Também é Ost do drama.

E todas as outras músicas da trilha sonora de Lovely Runner.

Circles – (Seventeen) – Existe uma analogia muito interessante sobre o tempo nessa música, ela é inspiradora, triste e consoladora, assim como Lovely Runner. Ela nos diz que as coisas passam.

April Shower – (Seventeen)- Essa música basicamente nos convida a aproveitarmos a chuva! e se molhar.  É muito Lovely Runner! 

Ghost – (Jeff Satur) – Gosto do tom melancólico e nostálgico dessa música, me deu um bom ritmo para escrever sobre Lovely Runner. Foi bom para pensar nas cenas tristes de Sun Jae e Sol com essa ideia de não procurar a pessoa amada e querer sua felicidade.

She’s in The Rain – (The Rose)- É basicamente sobre os momentos difíceis, sobre estar na chuva, solidão, depressão e ter alguém para estar na chuva com você. 

I.L.Y – (The Rose) – É romântica, me lembra Sol e Sun Jae. “Você vem ao meu coração nublado com sua voz calorosa”

Vou parar por aqui, mas foi isso que eu ouvi enquanto escrevia essa resenha! (deve ter algumas que esqueci). Elas me inspiraram e suas letras me ajudaram a pensar em Lovely Runner também.

Brenda Mendes

2 comentários sobre “Lovely Runner: O tempo, a chuva e o florescimento do amor

  1. Uau que resenha incrível! Aborda lindamente como é a série. Eu tive um mix de emocoes durante as semanas que acompanhei e compartilho sua frustração com o final e elementos mau explicados, mas hoje essa serie está no meu top 1 de favoritas e anseio que uma seja tao boa quanto essa no futuro

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