Hometown Cha Cha Cha: Navegando nas marés da vida e do amor

Olá! Tudo bem com vocês? Aqui quem escreve é a Brenda, e o tagarelando de hoje é sobre Hometown Cha Cha Cha, um drama que fez muito sucesso no mundo desde sua estreia. Sendo sincera, diante das polêmicas envolvendo o ator principal do K-drama, Kim Seon Ho, eu ponderei seriamente se escreveria ou não uma resenha sobre a obra, por questões pessoais. No entanto, a série continua sendo excelente, e merece sim uma análise completa, então decidi seguir em frente com essa tarefa.
Hometown Cha Cha Cha está disponível para assistir na Netflix. O drama tem 16 episódios e se configura como uma comédia romântica.
A história de Hometown Cha Cha Cha gira em torno de Hye Jin, uma dentista que, após não conseguir nenhum emprego em Seul devido a uma desavença com sua antiga chefe, decide se mudar para Gongjin, um vilarejo à beira-mar. Lá, Hye Jin abre sua própria clínica odontológica e começa a integrar a comunidade. Uma das primeiras pessoas que ela conhece é Hong Du-sik, um homem que parece fazer de tudo um pouco, sendo uma espécie de “quebra-galho” para os moradores do vilarejo. Du-sik tem uma ótima reputação na comunidade, ajuda os mais velhos, mas carrega um segredo de seu passado. Os destinos deles se cruzam várias vezes e, eventualmente, eles acabam se apaixonando.

O que mais me encanta em Hometown Cha Cha Cha é o clima que a história estabelece. O drama tem como cenário a beira-mar, e constantemente o mar, as ondas e o litoral fazem parte da narrativa. É interessante como a trama consegue usar o simbolismo do mar para contar a história dos personagens. O mar contribui para o clima de paz e tranquilidade que a obra transmite. O K-drama é leve como o mar em um dia calmo, mas também pode ser turbulento como os dias de ondas violentas. Por isso, assistir Hometown Cha Cha Cha foi uma das experiências mais agradáveis de 2021. Outro drama que me proporcionou essa sensação de frescor foi Run On. A história de Du-sik, Hye Jin e os moradores de Gongjin é doce, leve, divertida, reflexiva, refrescante, positiva e tranquila – como um dia de praia, onde podemos relaxar. Não à toa, a própria equipe da obra a classifica como terapêutica, e não poderia haver definição melhor para ela.
Os personagens também são um grande destaque em Hometown Cha Cha Cha. Todos eles são interessantes, divertidos e carismáticos, muito além da história de Hye Jin ou Du-sik. A narrativa desenvolve muito bem as vivências de cada membro da comunidade, sem superficialidade. Pelo contrário, oferece um propósito e uma mensagem para cada um dos personagens secundários. Isso faz com que o telespectador se envolva profundamente com cada um deles. No final, parece que estamos nos despedindo de grandes amigos. O drama nos permite imergir em Gongjin a tal ponto que nos sentimos parte daquela vizinhança, daquelas conversas e até das fofocas.

Não sei se terei espaço para falar sobre cada morador de forma detalhada, mas tentarei fazer isso de forma geral. Não posso deixar de comentar sobre Hye Jin, nossa protagonista feminina, interpretada por Shin Min Ah. Ela é uma personagem muito interessante, pois, à primeira vista, parece ser alguém com um nariz empinado, até mesmo arrogante. Hye Jin adora coisas caras e ama a vida em Seul, parecendo distante e fria. Nos primeiros episódios, notamos o deslocamento que ela sente em relação a Gongjin, uma cidade do interior, em contraste com sua vida urbana. Mas, gradualmente, o drama nos permite ver outro lado da protagonista e compreender seus dilemas interiores e seu crescimento ao longo da trama. Ela aprende a criar laços e a conviver com a comunidade do vilarejo.
Algumas das características mais marcantes de Hye Jin são sua honestidade, seu grande coração e sua gentileza. A excelente atuação de Shin Min Ah foi essencial para que nos afeiçoássemos à personagem e entendêssemos como ela pode ser doce, apesar de tentar manter a distância. Gosto muito de como os dilemas internos de Hye Jin são tratados ao longo da trama, como suas relações familiares, que foram abordadas de maneira bastante profunda e reflexiva. As questões sobre o amor familiar, a perda de um ente querido e a forma como isso impacta a vida e os comportamentos de uma criança são muito bem exploradas. A relação dela com a esposa de seu pai também é muito interessante e essencial para compreender as ações de Hye Jin ao longo da história. Sua trajetória é de independência profissional, crescimento sentimental, exposição das vulnerabilidades e abertura para novas experiências de vida.
Além de Hye Jin, precisamos falar sobre Du-sik, interpretado por Kim Seon Ho. Du-sik, ou “chefe Hong”, como é popularmente conhecido, é um personagem extremamente carismático. Ele é o tipo de pessoa que todos os velhinhos de Gongjin adoram, sempre disposto a ajudar a vizinhança com qualquer favor. Ao longo da trama, vamos conhecendo mais sobre Du-sik, seus laços com a comunidade e seu trabalho. No entanto, também somos alertados sobre um segredo que ele esconde, o que desperta a curiosidade de quem está assistindo. A narrativa vai nos levando a nos apaixonarmos por Du-sik, à medida que suas pistas vão sendo reveladas.
O personagem de Du-sik é muito bem trabalhado. As pistas sobre seu passado são jogadas aos poucos, e ele vai nos conquistando. Gosto de como o passado de Du-sik é inserido na trama, pois justifica muito a forma como ele vive no presente, sem fazer planos para o futuro e sem querer um emprego formal. Sua maneira de viver também nos faz refletir sobre a forma como estamos vivendo nossas próprias vidas, sobre o que estamos priorizando e o peso que damos a cada aspecto da nossa existência. A história de Du-sik sustenta a trama principal e gera reflexões sobre perdão, autoperdoar-se e sobre como, apesar de sorrirmos para os outros, podemos estar profundamente tristes por dentro. É uma jornada de autodescoberta e cura, que nos faz conectar emocionalmente com o personagem.

Como comédia romântica, o drama é bastante divertido e faz com que o público ria com as diversas situações entre os personagens. Temos cenas de vergonha alheia, e também somos convidados a acompanhar o romance entre os protagonistas. O romance entre Hye Jin e Du-sik é um dos elementos centrais de Hometown Cha Cha Cha. Eles começam com diversas trocas de farpas e brigas, mas, à medida que se conhecem melhor, se apaixonam, protagonizando cenas fofas e emocionantes. O casal Hyesik é de aquecer o coração, com uma relação que começa com amizade e evolui para um romance saudável e maduro. A química entre os dois é impecável. Gostei muito de como o drama manteve o relacionamento deles natural, sem incluir conflitos desnecessários. As dificuldades enfrentadas pelos dois são resolvidas de forma coesa e rápida, sem exageros dramáticos.
Além do casal principal, temos também outros casais secundários que são ótimos de acompanhar. A amiga de Hye Jin, Min-Seo, e o policial formam um casal adorável. Gosto de como o policial é desajeitado, o que faz o romance deles demorar um pouco para acontecer, mas também gosto de como Min-Seo é direta e rápida, criando uma dinâmica interessante entre os dois. Outro casal interessante é o que se divorciou e tem um filho de cerca de 9 anos. A história deles é muito reflexiva, abordando temas como a desvalorização do parceiro, a falta de percepção dos sentimentos do outro e o risco de perder algo importante. A forma como a trama trata a questão da família e do amor é sensível e tocante.
Hometown Cha Cha Cha também trabalha muito bem com a inserção de uma terceira pessoa, no caso o Diretor Ji, intepretado por Lee Sang Yi, o personagem é um amigo de faculdade de Hye Jin, que sempre foi apaixonado por ela. Sua presença serve para gerar ciúmes e movimentar o relacionamento dos protagonistas de maneira madura e sensata. O Diretor Ji é um personagem adorável, sensato e genuíno, e também ganha um romance ao longo da trama, que poderia ter sido melhor explorado. O importante é que o drama nunca descarta nenhum de seus personagens e oferece um propósito para cada um deles, até o último episódio. Mesmo personagens que inicialmente parecem não ter importância têm histórias interessantes a contar.

Ao longo dos 16 episódios, Hometown Cha Cha Cha aborda diversos temas importantes, como os pré-julgamentos que fazemos sobre as pessoas, o que se esconde por trás de uma felicidade aparente, a dor de perder um ente querido, as dificuldades da vida e como enfrentá-las, a importância de ser quem você é, as várias formas de amar e a relação entre pais e filhos. Tudo isso é tratado com uma leveza característica que só aumenta a profundidade do drama. Eu amei a sensibilidade com que a vida é mostrada, com todos os altos e baixos que ela envolve.
Em conclusão, Hometown Cha Cha Cha transmite o poder do mar, das pessoas que entram em nossas vidas, do amor e da fraternidade. A série é como um dia de praia: calma, mas com momentos de turbulência, como o oceano. O drama nos ensina que, assim como as ondas violentas passam, as dificuldades da vida também irão passar, e só precisamos estar abertos a aproveitar a calmaria quando ela chegar. O mar, com sua espontaneidade, nos lembra que tudo na vida é passageiro, e que, apesar das tempestades, dias melhores sempre virão. Hometown Cha Cha Cha nos ensina a amar, perdoar e recomeçar, além de procurar nosso próprio lar.