Hello, it’s Me: as várias versões de si

Hello, it’s Me: as várias versões de si

Olá pessoas, como estão? Aqui é a Alice, para mais um Dialogando. O drama a ser resenhado é o Hello, it’s Me! (2021), este é um drama coreano lançado pela emissora KBS2 em parceria com a Netflix e contém 16 episódios. Eu o acompanhei, inicialmente sem compromisso, mas os episódios são tão envolventes que este é um drama que não tem como odiar e eu ainda estou em estado de êxtase com aquele final lindo e reflexivo, acho que jamais superarei estes personagens incríveis, sem mais delongas, vamos começar esse diálogo.

Bom, Hello it’s me é um drama que inicialmente pode se parecer como uma mera comédia romântica (aliás, não acho que a sinopse faça jus ao drama, pois quando a lemos parece que será mais uma comédia romântica como qualquer outra onde o moço rico se apaixona pela moça pobre, mas logo no primeiro episódio, o drama deixa claro que não será, pois tal categoria não é o plot central da trama), mas ele não é apenas sobre isso, na verdade, ele é um drama reflexivo, ele vai falar sobre como nós levamos nossas vidas baseadas em culpa, arrependimento, falta de proposito e tudo mais, ele falará sobre quando começamos a apenas sobreviver ao invés de aproveitar a vida que temos, principalmente quando fomos pessoas radiantes e sonhadoras durante a nossa juventude. O drama trará essa reflexão através de todos os personagens, que serão movidos por uma pessoa em comum, que é a Scarlet, personagem que também é conhecida por ser a versão de 17 anos da Bahn Ha Ni. A jovem que magicamente aparece na vida deles, vira tudo de cabeça para baixo, e através de muitas atitudes impensadas, consegue fazer com que as pessoas revejam suas vidas, ao olhar para quem eram no passado.

O drama vai girar em torno de Bahn Ha Ni (Choi Kang Hee), ela é uma mulher de 37 anos que vive insatisfeita com o rumo de sua vida, entretanto, não faz nada para mudá-la. Ela sempre foi uma pessoa radiante, e durante a sua juventude era a jovem mais popular e amada por muitos. Mas ao passar por momento traumático, o seu brilho se apaga, e ela se torna uma pessoa que se culpa muito, abaixando a cabeça e se ajoelhando diante das pessoas, sem se importar se a pessoa estava certa ou errada, pois para ela, a culpa sempre será dela. Quando as coisas começam a dar errado e seus sentimentos estão confusos demais, ela decide se entregar de vez e acabar com sua própria vida, no entanto, algo não esperado acontece e a sua versão sonhadora de 17 anos aparece em sua frente, fazendo com que se lembre de todos os seus sonhos e de sua força interna, que a possibilita de voltar a lutar para tornar a sua vida mais prazerosa.

Já que falamos da versão de 37 anos, nada mais justo que falar da 17 anos, Bahn Ha Ni, ou melhor, Scarlet (Lee Re), é uma jovem inconsequente, podemos ver nela a representação de muitas jovens ao redor do mundo, ela é alegre, gosta de dançar e cantar, se divertir com suas amigas, acompanhar idols, não gosta de estudar, muito valente, e acima de tudo, gosta de viver e tomar ações sem medir as possíveis consequências. Ela passa por pequenos choques de tempo por ser uma jovem que vem dos anos 2000 para 2021, porém, ela logo se acostuma a vida, passando a aproveitar cada dia mais. Muitas vezes seus atos causam revolta não só nos personagens da trama, mas em nós, telespectadores, entretanto, ela é uma pessoa simples e alegre, que quando percebe seu erro, ela o admite (apesar de não o fazer rapidamente). E por conta dessa sua inconsequência, ela acaba por ajudar muitas pessoas em volta dela a redescobrirem o brilho dentro de si.

As versões de Ha Ni em Hello it’s Me – Imagem: Reprodução/Netflix

Como em todo bom drama que tem comédia romântica, também temos o nosso protagonista que é Han Yu Hyeon (Kim Young Kwang), ele é um homem que inicialmente pode ser taxado como uma pessoa superficial e mimado, bom, mimado ele realmente foi, e isso até mesmo ele admite, mas está longe de ser uma pessoa superficial. Ele é um homem de muitos certificados, mas não sabe o que fazer com eles, já que ele ainda não conseguiu descobrir o propósito de sua vida. Sua relação com seu pai é muito bonita, por mais que sempre tenham diálogos trocando farpas, podemos ver o carinho que emana dentro deles por saberem que um é a ‘única’ família do outro, e por conta disso, quando o pai resolve dar ‘um jeito’ na vida do filho, ele o desafia ao máximo, para que o Yu Hyeon aprenda a viver de verdade, e através desse impulso, o Yu Hyeon consegue aprender a viver na vida real, trabalhando para conseguir dinheiro e vivendo sozinho.

Obviamente temos um bom elenco de apoio, com histórias magnificas, que é o Anthony (Eum Moon Suk), ele é um ator que já teve seus dias de glória e vem sendo esquecido, mas aos poucos ele reconstruí a sua carreira, porém, o seu passado é manchado por sua personalidade violenta e muita prática de bullying com seus colegas de escola e crianças na rua. Ele é muito teimoso e orgulhoso, e não acata as ordens de ninguém, a única pessoa que conseguia ‘mandar’ nele é o seu amor de adolescência, Bahn Ha Ni, a qual não encontra desde o ensino médio, sendo assim, ele fica extremamente surpreso quando no futuro, vê a versão de 17 anos do seu ‘amor’, e se recorda de seus momentos da juventude, tanto dos momentos bons quanto dos ruins.

E além dele, temos a Ji Eun (Kim Yoo-mi), a melhor amiga da juventude da Ha Ni, elas se afastaram por um tempo, entretanto, uma volta a vida da outra quando a Ha Ni consegue um novo emprego na empresa Guloseimas Joa, que é onde Ji Eun trabalha, e também, quando Ha Ni se torna amiga do Yu Hyeon, que é primo do marido da Ji Eun. Bom, esta é uma personagem que muitas vezes a veremos ‘se segurando’, muitas vezes ela evita expor seus sentimentos, e a sua sogra, a mãe do Do Young, sempre a menospreza, fazendo com que ela fique cada vez mais acuada, e quando ela reencontra sua amiga de infância novamente, ela passa a recordar a felicidade de ser livre para sorrir, correr e se divertir com uma amiga em pequenos momentos, como uma ida ao karaokê.

Versão jovem da Ha Ni em Hello it’s Me – Imagem: Reprodução/Netflix

Como já dito, a Scarlet é uma jovem muito inconsequente, e acredito que seja está a reflexão da trama, pois, através da fantasia de viagem no tempo podemos ver uma única pessoa com personalidades diferentes, a de uma jovem que apenas que viver intensamente, aproveitando ao máximo e outra de uma adulta que vê as consequências antes mesmo de dar um passo à frente, e quando as duas batem de frente podemos ver que a maturidade é algo que ajuda muito as pessoas, pois quando somos jovens temos muitas atitudes questionáveis e não pensamos muito apenas fazemos ou falamos, entretanto, quando a maturidade nos atinge aprendemos a lidar com o mundo e principalmente com as consequências das ações que tomamos.

Com ajuda da sua versão de 17 anos, a Ha Ni conseguiu amadurecer em diversos tópicos, como o fato de ficar se ajoelhando e sempre acatando o que as pessoas diziam, sem se importar com seu bem estar, além disso, ela começa a se livrar das amarras do seu passado, principalmente da culpa ‘desnecessária’ que carregava e sua irmã sempre usava para deixa-la magoada. E enquanto as vemos nesta jornada, começamos a questionar a nós mesmos com perguntas do tipo “Como eu era quando jovem? Eu tomaria atitudes similares a dela? Eu me arrependo de algo que fiz na minha juventude? E agora quando sou adulta, me arrependo de algo? A minha vida está como eu sonhei que desejava? Me aceito como sou? Eu encontrei a minha felicidade?”. As perguntas são muitas, e vendo a maneira que elas reagem as respostas que a vida delas dá, podemos imaginar como respondermos baseados em nossas vidas.

Além de trabalhar o tópico desse amadurecimento na protagonista vemos em outros dois personagens, um sendo o Yu Hyeon, que deixa de ser um homem mimado para ser uma pessoa que achou seu propósito e sabe o que gosta e o que quer fazer, se dedicando intensamente a aquilo e dando amor as pessoas a sua volta (muito amor mesmo, o Yu Hyeon não tem maldade no coração, algumas vezes senti uma certa semelhança entre ele e o Young Shik de Para Sempre Camélia, mas o Yu Hyeon não tinha sede de justiça como o outro, entretanto, era igualmente uma pessoa boa e radiante. E entrou no meu top de melhores protagonistas). E também, vemos esse amadurecimento no Anthony, pelo mesmo motivo da Ha Ni, ele era um jovem inconsequente e fez muitas coisas ruins, e quando encara as pessoas que machucou no futuro, percebe o quão errado foram aqueles momentos de sua adolescência. Enquanto ele ganhava fama baseada em uma mentira, as pessoas que ele atormentou ficaram profundamente machucadas e não se esqueciam dos momentos tortuosos. E por conta disso, ele toma uma atitude incrível de admitir seus erros e dizer que suas palavras não remediariam o passado (não estou defendendo as ações dele de fazer bullying pessoal, ele tinha consciência de que não era certo o que fazia, e continuou a fazer, então achei incrível as consequências de suas atitudes vindo à tona, afinal, como dito pela Ha Ni, ‘Os adultos precisam admitir e lidar com as consequências dos seus erros’).

As versões de Ha Ni em Hello it’s Me – Imagem: Reprodução/Netflix

Além dos personagens principais, os secundários e coadjuvantes também foram afetados pela vinda da Ha Ni do passado. Ela conseguiu fazer com que uma jovem que sofria bullying por ser tímida se descobrisse e visse que poderia revidar e mostrar ao mundo o seu poder interno, ela também serviu para aproximar toda a família da Ha Ni que havia sido quebrada por uma fatalidade, assim como, conseguiu fazer que os laços de amizade crescessem novamente em várias pessoas, como o da Ji Eun e da Ha Ni, que já haviam um lindo passado em suas memórias.

Hello it’s me é um drama de narrativa simples que vai trazer a questões como a ganância familiar, o amor de amigos e de familiares, a falsa vida criada pelos idols para esconder o seu passado, o pequeno mistério acerca da aparição da Ha Ni (no caso, o elemento da fantasia, que é muito bem desenvolvido, na medida certa), muita comédia, e também temos um pouco de romance. Pelo fato de o romance não ser o verdadeiro foco, vamos tendo ele em cenas do cotidiano dos personagens, em cenas onde eles comem juntos, dão apoio para que o outro possa chorar, compartilham sentimentos, e muitas outras coisas. E este relacionamento simples, que é visto entre a Ha Ni e o Yu Hyeon é linda, pois mostra que o romance não está apenas em beijos e abraços, ele também está nos pequenos gestos de apoio.

Bom, terminarei esta resenha deixando Hello, It’s Me como uma indicação a vocês, pois o drama consegue reunir vários temas incríveis e personagens completamente diferentes que conseguem amadurecer aos poucos, aprendendo o seu lugar no mundo e principalmente, aprendendo a reconhecer os seus erros e aceitar as consequências dos seus atos. Além disso, a trama reúne uma fotografia perfeita e uma ost impecável que faz com que a gente a queira ouvir sempre. Por mais que eu sinta que não falei metade da grandiosidade que este drama é, eu finalizo, deixando uma citação da avó da Ha Ni, a qual eu amei, “𝘈𝘰 𝘷𝘪𝘷𝘦𝘳 𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢, 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘵𝘦𝘳𝘢́ 𝘮𝘰𝘮𝘦𝘯𝘵𝘰𝘴 𝘥𝘰𝘭𝘰𝘳𝘰𝘴𝘰𝘴 𝘥𝘰𝘴 𝘲𝘶𝘢𝘪𝘴 𝘯𝘢̃𝘰 𝘱𝘰𝘥𝘦𝘳𝘢́ 𝘧𝘶𝘨𝘪𝘳. 𝘘𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘰𝘯𝘵𝘦𝘤𝘦𝘳𝘦𝘮, 𝘧𝘦𝘤𝘩𝘦 𝘰𝘴 𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴 𝘦 𝘤𝘰𝘯𝘵𝘦 𝘢𝘵𝘦́ 𝘵𝘳𝘦̂𝘴. 𝘘𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢𝘣𝘳𝘪𝘳 𝘴𝘦𝘶𝘴 𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘯𝘰𝘷𝘰, 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘷𝘢𝘪 𝘱𝘦𝘳𝘤𝘦𝘣𝘦𝘳 𝘲𝘶𝘦 𝘴𝘦 𝘵𝘰𝘳𝘯𝘰𝘶 𝘶𝘮 𝘱𝘰𝘶𝘤𝘰 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘧𝘰𝘳𝘵𝘦.”.

Alice Rodrigues

Estudante de Comunicação social – Jornalismo, e atuando como social media, criadora de conteúdo digital e assessora de imprensa. Além de amar conhecer novas culturas, é viciada em ler e ouvir inúmeros podcast de assuntos variados. Dorameira desde de 2016, adora acompanhar e analisar narrativas e conteúdos que fazem parte da criação de um drama (elenco, filtros usados, fotografia, simbologia das cenas e outros).

Um comentário em “Hello, it’s Me: as várias versões de si

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *