Doctor Slump: em meio as dores, um grande amor

Doctor Slump: em meio as dores, um grande amor

“A autoestima é como uma torre de pedrinhas que você empilha todos os dias. Ela desmorona no momento em que você tem dúvidas e pensa: ‘Qual é o sentido?’ Tenha confiança, acredite em si mesmo e continue empilhando essas pedrinhas. Então, antes que você perceba, você terá uma casa ou um castelo resistente.” 

Será que a pessoa que eu mais ‘odeio’ pode ser a verdadeira pessoa a qual preciso que esteja ao meu lado? Pois bem, é esse o desenrolar que acompanhamos neste INCRÍVEL drama sul-coreano. Contando com 16 episódios, o k-drama “Médicos em Colapso” (Doctor Slump) – que foi produzido pela JTBC e distribuído internacionalmente pela Netflix – acompanha a história de amor e amadurecimento/superação de um casal de médicos que, quando jovens, se consideram os grandes ‘inimigos’ um do outro, mas será que essa rixa era real?

Nesta narrativa somos apresentados a anestesista Nam Ha Neul, interpretada pela Park Shin Hye, que cresceu dentro de uma família amorosa e dedicou sua vida única e exclusivamente aos estudos. Em contrapartida a esta, temos o famoso cirurgião plástico Yeo Jeong Woo, interpretado pelo Park Hyung Shik, que assim como Ha Neul é  igualmente inteligente, no entanto, diferente dela, conseguia distribuir seu tempo entre os estudos e diversões, no entanto, também vivia uma vida solitária dentro de sua própria casa. De forma eficiente e inteligente, a história gira em torno da transformação do relacionamento originalmente tenso entre Ha Neul e Jeong Woo em um enlace amoroso, mas, além disso, o drama mostra que por mais que os primeiros anos de carreira dos protagonistas tenham sido promissores, eles precisam ser fortes para enfrentarem crises ainda maiores desencadeadas por várias circunstâncias. 

Uma coisa que este k-drama faz profundamente é denotar como os personagens chegam no ‘fundo do poço’, veja bem, o ambiente de trabalho de Ha Neul era tão estressante, onde ela não podia parar ou errar, seus esforços sempre geram glórias para outros e nunca para si mesma. Quando ela é culpada pelo erro de um superior, o mesmo superior que vem roubando sua pesquisa, nossa protagonista legitimamente explode e desiste. Este é o seu fundo do poço. Ela finalmente chegou a um ponto em sua vida em que não sabe o que fazer. Em busca de respostas para seu estado emocional e físico, ela consulta um psiquiatra e  descobre que está em um nível alto de estresse, o burnout.

Levando-se em conta que mesmo em 2024 os transtornos  mentais ainda são um tabu, o diagnóstico da Ha Neul traz momentos extremamente tristes, mas realistas a trama. Dentro de uma sociedade que valoriza as altas realizações, a protagonista – assim como sua família – não sabe como reagir ao diagnóstico, especialmente quando sua mãe se orgulha das conquistas acadêmicas e profissionais de anos. Entretanto, apesar da tristeza, Ha Neul e sua família se unem mais do que nunca e, juntos, tentam navegar e aprender sobre a condição depressiva da personagem.

Em contrapartida, Jeong Woo chega ao seu fundo do poço ao se envolver em um caso de homicídio culposo, que lhe tira literalmente tudo. Ele perde a sua casa, o seu consultório e – o mais importante – a sua reputação. Para além disso, ele precisa lidar com seus amigos de anos contra ele e o culpando pela falta de dinheiro e, também,  com o fato de que, mesmo sendo injustamente acusado, a única preocupação de seus pais não é se ele está bem, mas se ele pode consertar essa situação para que isso não se reflita sobre eles. Mesmo que Jeong Woo seja considerado inocente depois que evidências suficientes forem encontradas, ele ainda precisa lidar com outro mal, o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que desenvolveu após a cirurgia que mudou sua vida. 

Ha Neul e Jeong Woo são como os personagens típicos das boas comédias românticas: inimigos que se tornam amantes. Conforme revelado no início de Doctor Slump, ambos competiram entre si no ensino médio como os melhores alunos. Essa animosidade lúdica entre eles é aparente desde o início, mas, ao longo da série, se estabiliza. Com isso, quanto mais os dois  se apoiam, mais o romance deles floresce. E, no final,  se tornam a salvação um do outro.

E não posso deixar de parabenizar a Baek Seon Woo – roteirista deste drama – pela escolha do elenco principal. Seja o humor naturalmente cativante do Park Hyung Sik ou o charme da Park Shin Hye para tornar seus personagens incrivelmente fundamentados, ambos atores deram tudo se si, nos entregando excelentes interações entre a dupla, como as reações do Jeong Woo com ciúme ou quando vê que tem uma grande adversária na escola ou quando Ha Neul explode em lágrimas ao receber o apoio incondicional de sua mãe durante um episódio depressivo. Fosse sorrindo ou chorando, esse elenco entregou tudo!

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No quesito romance, Doctor Slump entrega tudo e um pouco mais. Inicialmente, Ha Neul e Jeong Woo são um casal um tanto caótico. A química entre Park Shin Hye e Park Hyung Sik é palpável, e esse fato facilitou a transição de inimigos para amantes. Mas, para além deles, outro casal da série também divide os holofotes. O cirurgião plástico Bin Dae Yeong (Yoon Park) e a médica Lee Hong Ran (Kong Seong Ha) são pais solteiros que tentam fazer o melhor que podem. Diferente dos protagonistas que se encontram em meio a uma crise em suas vidas, nosso casal secundário vive um romance mais cauteloso e mais maduro. Embora haja alguns momentos engraçados entre os dois, eles se conhecem e se abrem aos poucos e naturalmente, logo, o romance deles segue seu curso natural.

Obviamente, um dos grandes pontos da trama é o romance, mas ele não é o fator central, Doctor Slump retrata em uma narrativa humana e sensível a saúde mental e suas complexidades, mostrando que, apesar de se apoiarem um no outro durante seus dias ‘no fundo do poço’, Ha Neul e Jeong Woo evitam a rápida e repentina co-dependência que pode levantar questões sobre a autenticidade de seu relacionamento. Logo, entre as inúmeras tramas estereotipadas das comédias românticas, está a realidade da cura do trauma, mostrando como é muito difícil voltar ao normal quando sua vida foi virada de cabeça para baixo, e também como é difícil superar o pânico, ansiedade, tristeza e depressão. E, mesmo que nossos protagonistas sejam a âncora um do outro, eles também passam por batalhas solitárias e tristes enquanto vivem seus períodos difíceis de se recuperar.

O drama retrata sobre aceitar que a vida não é perfeita, as pessoas não são perfeitas, que podemos fazer tudo certo e ainda assim nossas vidas podem desmoronar. Com Doctor Slump temos a certeza de que a vida não é sobre passar a imagem mais perfeita, e sim, trata-se de encontrar sua felicidade, seu centro, seu equilíbrio e, em seguida, encontrar a força para suportar o que vem em seu caminho. Nossos protagonistas nos levaram em uma jornada de desmascaramento de crenças errôneas sobre sucesso e felicidade, e no final nos mostraram o que era realmente importante… nossas relações com a família, amigos e uns com os outros.

Doctor Slump, sem dúvidas, é um dos dramas coreanos que mais gostei de assistir neste ano. Para além da narrativa, preciso elogiar amplamente as OSTs desse drama, que são realmente INCRÍVEIS e a fotografia, eu amei acompanhar como cada cenário transpõe perfeitamente os sentimentos dos personagens, seja o beijo em uma forte luz laranja, o ambiente branco e solitário do apartamento que o Jeong Woo fica ou os momentos em família que mostram perfeitamente o aconchego familiar. Logo, se você gostou de dramas como “Mad for Each Other” (2021), ou até mesmo “Our Beloved Summer” (2021), há a possibilidade de gostar dessa produção que pode ser resumida como um drama romântico com clichês reconfortantes, uma trama hipnotizante, comovente e viciante.

Médico em Colapso/Doctor Slump pode ser assistido através da Netflix.

Alice Rodrigues

Estudante de Comunicação social – Jornalismo, e atuando como social media, criadora de conteúdo digital e assessora de imprensa. Além de amar conhecer novas culturas, é viciada em ler e ouvir inúmeros podcast de assuntos variados. Dorameira desde de 2016, adora acompanhar e analisar narrativas e conteúdos que fazem parte da criação de um drama (elenco, filtros usados, fotografia, simbologia das cenas e outros).

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