A Piece of Your Mind: o som do amor

Oii pessoinhas, vamos dialogar um pouco? A resenha que vos trago hoje é do drama sul-coreano A Piece of Your Mind (2020) ou como também conhecido “Um pedaço da sua mente”, este drama foi produzido pela emissora tvN em 2020 e contêm 12 episódios que podem ser assistidos através do Viki e Apple TV. O drama que se trata de uma construção bela de uma poesia, nos traz entre seus gêneros principais o slice of life e melodrama, e assim, faz com que a gente se emocione bastante em seu decorrer, derramando lágrimas ou dando sorrisos, mas isso falaremos mais ao longo desta resenha.
Quando me pedem para definir o que é “A Piece of Your Mind”, inicialmente poderia pensar em descrevê-lo como um romance de amor unilateral que perdura, ademais, ele não é sobre isso, este é um drama de romance curativo, pessoas com grandes feridas internas que precisam esperar o tempo para que essa cicatrize para seguirem em frente, pessoas que precisam aprender a lidar com o luto e aceitar a perda de pessoas e memórias tão doces. É um drama sobre como as pessoas comuns – como nós -, reagem as perdas da vida, e em meio a isso, o drama explora de uma forma magnifica e poética, os temas de amor e perda, solidão e solidariedade, em uma jornada linda que pode ter um caminho confuso e desconcertante sobre como lidar com nossas questões internas. Agora, vamos conhecer mais desse lindo drama poético.
Por se tratar justamente de um drama poético, vemos muitos detalhes em sua construção que denota isso, como os momentos de silêncio – que são muitos -, esses momentos de silêncio/pausas servem justamente para aprofundar o sentimento do telespectador durante a cena, enquanto enfatiza emoções, como um momento de romance para nos deliciarmos das cenas, um momento de conclusão interna ou aqueles com uma a carga emocional grande, que requerem um momento de silêncio para podemos compreender melhor, e nisso, o drama muito se assemelha a My Liberations Notes (2022) que também apresenta esses pontos silenciosos para enfatizar emoções.
Como dito, este é um drama que consegue retratar pequenas questões através de sua fotografia, apresentando um ambiente com diferentes luzes mediante ao personagem que o adentra, um exemplo disso é quando no episódio 7 (eu acho), estava o Ha Won e a Seo Won no estúdio e ele estava completamente iluminado pela luz e irradiando brilho, alegria e aconchego, mas alguns minutos depois que está no ambiente é o pianista e toda a luz e o aconchego se vão, e o estúdio se torna um lugar completamente branco/azulado, denotando frio e solidão, que é o que o personagem passava no momento. Mas para além disso, o drama também constrói sua narrativa através do pequeno cacto da Seo Won, veja bem, de acordo com o Feg Shui, os cactos são considerados guardiões e auxiliam as pessoas a encontrar sua forma maior em meio à solidão, logo, os cactos nos ensinam sobre a paciência de esperar a hora certa de florescer, e sobre como os nossos espinhos nos ajudam a afastar quem não queremos na nossa vida. Logo, cada um dos personagens é seu próprio cacto, afastando os males enquanto lentamente passam pelo processo de florescer (mas eu vou explicar mais sobre essa minha teoria).
Seo Woo (Chae Soo Bin) é uma jovem engenheira de som que vivia uma vida monótona até que o estúdio onde trabalhava mudar de dono e ela conhecer o sr. Madrugada, Moon Soon Ho (Lee Ha Na) e a Ji Soo (Park Joo Hyun). Ela pode parecer uma pessoa dura por fora, mas perder seus pais e suas belas memórias na casa onde cresceu de uma única vez, a deixou mais ‘frágil’, e assim, a moldou a ponto de não conseguir mais viver sem pesadelos, insônia e o terrível sentimento de solidão. A Seo Woo é como um “cacto orelha de coelho”, por mais que esteja em meio a solidão e tente se proteger, assim como esse tipo de cacto, ela não possui espinho, e aos poucos, vai florescendo e dando lindas flores amareladas. A Seo Woo passa por um processo longo onde ela precisa voltar a compreender que não está sozinha, que ela pode sim se apoiar nas outras pessoas e ver que existem pessoas que querem que ela fique.
Por mais que Seo Woo tenha a companhia de sua amiga de anos, Eun Joo (Lee Sang Hee), que está sempre ao seu lado, fazendo tudo o que pode pela Seo Woo, o sentimento de solidão dela ainda perdura, uma vez que nunca teve a chance de ouvir as palavras que mais desejava, “eu preciso de você” e “fique comigo”, palavras que para ela, valiam mais do que um “eu te amo”, logo, quando ela conhece o a Won e se sente curiosa para explorar mais sobre ele, aos poucos um sentimento novo vai se nutrindo nela, e através deste, ela dá um passo para seguir no seu processo de luto e ‘aceitar’, bem como, também dá um passo em sua vida de aceitar compartilhá-la com alguém. Não posso deixar de mencionar neste momento o quanto a interpretação da Soo Bin como Seo Woo foi simplesmente PERFEITA! Pois a Soo Bin conseguiu transmitir completamente a sua personalidade brilhante na personagem, embora, esta guardasse uma dor dentro de si.
Ha Won (Jung Hae In) é um programador de IA (inteligência artificial) que desenvolve um dispositivo com o intuído de que este seja “alguém” para conversar e auxiliar em tratamentos como o de Alzheimer ou em psicoterapias e o objetivo principal é fazer com que a personalidade e memória sejam as do próprio usuário. Ele é uma pessoa de coração bom e puro, contudo, após perder sua mãe e ter que abrir a mão do seu primeiro amor, ele passa a se isolar e se torna uma pessoa solitária. Este é um personagem a qual podemos sentir sua tristeza e felicidade em pequenos gestos faciais (Jung Hae In você está de parabéns por sua interpretação!!), logo, sinto que o Ha Won é como o “cacto ursinho”, ele contém espinho, mas estes são macios que dá para você acariciar sem medo de se machucar, e acho que ele seja esse devido ao fato de tantas pessoas que já o machucaram seja de forma voluntária ou não voluntária, e por mais que ‘o apertem’, a pessoa que o machucou não se fere profundamente.
O Ha Won tem sua empresa, tem sua família e tem dinheiro, mesmo assim, é uma pessoa solitária, podemos ver isso em seu apartamento que era circundado de elementos de tons frios, ou até mesmo na casa do endereço de entrega, que no começo é regada no tom frio e aos poucos vai gerando cor e se tornando um local aconchegante. Por muito me questionei os motivos do Ha Won não ter ‘superado’ seu amor de infância, mas quando colocado a prova, conseguimos enxergar que aquele não era um amor comum, eles cresceram juntos sempre sendo os melhores amigos um do outro, se despedir desse amor, para o Ha Won, seria o mesmo que se despedir das memorias de sua juventude e até mesmo da imagem de sua mãe, pois não poderia voltar atrás depois, por isso, sua ânsia por poder conversar ou ouvir a voz da Ji Soo mais uma vez, não era apenas ela, a voz dela remeteria ele a aconchego, a visão de que ele não estaria sozinho apesar do sentimento de solidão. Logo, quando conhece Seo Woo e passa a ver que pode vivenciar um amor correspondido, também passa a nutrir sentimentos.
O romance entre Seo Woo e Ha Won foi algo bem raro e lento, uma vez que o romance deles não está dentro do convencional de ser o primeiro amor um do outro ou de terem muitas histórias do passado junto, além disso, não é um romance excessivo. Este foi um romance que conseguiu me recarregar em 100%, eles não são um casal convencional, mas eles se conectam de uma forma incrível onde se tornam os únicos que conseguem compreender a dor um do outro, ao mesmo tempo que se apoiam que cada um tenha o seu período interno para se recuperar, eles compreendem seus limites e respeitam seus sentimentos, logo, é incrível acompanhar a evolução dos sentimentos deles que não passa em momento algum a impressão de ser um sentimento forçado, e sim, natural. O que começou com apenas uma admiração por alguém que estava em seu processo de luto, acabou se transformando em amor, e consequentemente fez com que um fosse o incentivo do outro para que lidassem com suas questões internas. Além disso, esse é um casal bem fofo e eu amei a química deles e cada pequeno momento que vivenciam juntos, seja ver o pôr do sol de mãos dadas, seja ele comprando pantufas para ela, eles observando a primeira neve cair ou até mesmo os momentos de abraços no escuro ou na estrada de cerejeiras.
Não menos importante, outra integrante dos personagens principais é a Kim Ji Soo que é o amor de infância de Moon Ha Won e ‘nova amiga’ da Seo Woo. Ela é uma mulher que tinha uma aura única e um sorriso vibrante, mas a vida e suas verdades foram a consumindo, fazendo com que se tornasse uma pessoa que foi banhada pela tristeza e pela culpa – por mais que ela não tivesse nada a ver com o feito. Por mais que o Ha Won tenha sido o seu melhor amigo por anos e alguém que ela realmente amava (mas não um amor romântico), ela acabou por se afastar dele após o seu casamento, e mesmo com os caminhos diferentes sendo traçados, um não se esquece do outro, cultivando as belas memórias, ademais, essas memórias com ele, acabam por virar um fardo para ela também. Eu vejo a Ji Soo como um “cacto-azul”, pois assim como a planta, era uma pessoa ‘exótica’ com gostos diferentes e uma maneira única de viver, além disso, também se assemelha por ter sito uma pessoa discreta que possivelmente poderia florescer no verão. Logo, assim como o cacto no inverno, a Ji Soo estava em seu processo de florescer, mas isso só poderia acontecer caso ela conseguisse diminuir seu sentimento de culpa. Para além disso, seu marido, o pianista Kang In Wook (Kim Sung Kyu), é como o “cacto monstruoso, Mandacu”, acho que ele se assemelha a este devido a representação do personagem como sendo ‘o monstro’, assim como esta planta, mas que, aos olhos de algumas pessoas, não são tão ‘monstruosos’., e sim, lindos e diferentes.
A trama também nos apresenta a muitas outras pessoas importantes para a narrativa, como a sobrinha do Ha Won, Soon Ho, que é uma peça importante tanto para a ligação dos protagonistas, uma vez que ela reencontra e recontrata a Seo Woo, mas também, é ela quem se aproxima do pianista, para além dela, temos a amiga da Seo Woo, Eun Joo, e os moradores de sua pensão. Contudo, focarei apenas nos personagens principais e deixarei que descubram mais sobre esses ao assistir a trama, caso contrário, essa resenha ficará maior do que já se encontra.
Através de uma narrativa lenta e poética, A piece of Your Mind retrata a vida de duas pessoas com o emocional abalado que se encontram e formam um belo laço antes mesmo de conhecerem a fundo a história um do outro, a sua forte conexão acaba por fazer eles darem passos em sua vida e também, se apaixonarem. Ademais, esse não é apenas um drama romântico, ele também é uma narrativa curativa onde examina cuidadosamente o luto como o aspecto central da trama que dá substância a cada personagem, e também, sobre como eles lidam com o luto e a dor – seja sobre a morte de um familiar, um relacionamento finalizado ou o seu passado. Cada personagem possui sua abordagem especifica de crescer, e nenhum deles é perfeito, o drama também se preocupa em mostrar falhar em TODOS os personagens para deixar sua existência mais real. Outrossim, o drama também mostra que a vida pode ganhar cor e aos poucos, eles podem voltar a ter sua vida brilhante enquanto lutam por superar sua dor. Logo, é a retratação de que o seu tempo ruim, te fará mais forte. Com isso, posso afirmar que A Piece of Your Mind é sobre superar a tragédia, é sobre escolher viver e encontrar consolo nas pessoas que você ama. É também sobre comunicar seus sentimentos, mostrando que o que é considerado ‘coisas triviais’ para algumas pessoas, não são para outras, por isso, o drama foca nessas questões como o amor unilateral de infância, a criação de uma música, uma visita a sua casa antiga e outros. Ele mostra que para alguém que está lutando com a perda de seus entes queridos, tudo é uma questão de tempo para florescer e aceitar.
Por mais que eu ame este drama, não estou dizendo que ele é um simplório de perfeição, ele possui suas falhas também, e estas são expostas através do fato do Ha Won pedir a gravação e pegar do computador da Seo Woo sem a sua permissão, porque eu adore o personagem, não estou aqui para dar desculpas por ele. A trama também peca por não mostrar seus personagens – mesmo que só por indícios – frequentando a psicólogos, pois aos meus olhos (que deixe claro, está é uma visão dos olhos de uma pessoa leiga sobre tratamentos mentais), o Ha Won vivia no passado e não olhava para seu futuro o que chegava a quase ser uma obsessão e essa retração é extremamente perigosa. Outro ponto é o dispositivo da Ji Soo, que capta todas as memórias e sentimentos dela apenas pela voz, isso pareceu meio ilógico aos meus olhos, apesar de ser uma questão que consegui ignorar.
Um fator inegável deste drama é que A Piece não dá respostas escancaradas como vemos em muitos dramas comédias românticas por ai, ele retrata tudo como uma pela poesia, logo, muitas de suas respostas são encontradas dentro de detalhes narrativos e linhas temporais especificas que por muitos pode passar despercebida, como a questão do Ha Won ter encontrado a cadeira da mãe da Seo Woo, da Seo Woo ter dado uma frigideira ao Ha Won, ele tentando encostar a mão na dela e até mesmo o ato dele comprar várias pantufas para ela. Logo, este é um drama que requer concentração ao assistir para que assim, não ultrapasse os obstáculos que na narrativa colocam no decorrer. Com isso, não posso deixar de afirmar que A Piece of Your Mind, não é um drama que eu indico a todas as pessoas. Aproveitando este momento de explicação, eu diria que muitas pessoas não gostam do drama justamente pela questão das explicações em detalhes e|ou objetos, e também com o fato de realmente ser um drama de resolução mais lenta, logo, creio que muitas pessoas não se anseiam para assistir um drama a qual terão que trabalhar mais a mente, ao invés de ter respostas claras.
Não tem como falar de A Piece of Your Mind sem mencionar o quanto o álbum de OSTs é simplesmente magnifico! Este contém um grupo de músicas que são sinceras e cobrem uma faixa muito agradável; de pensativo, nu e acústico, a arejado, leve e aconchegante. As minhas músicas favoritas são “Rain or shine” e “Who I Strolled With” pois suas letras são lindas e realmente grudam na cabeça. Além disso, a fotografia da trama é simplesmente INCRÍVEL. É realmente uma pena que a emissora tenha tomado a decisão de tirar os quatro últimos episódios, finalizando a trama com 12 episódios.
Este drama é uma representação perfeita de como um drama poético deve ser, ele retrata como o amor vence as lutas em certos níveis, como vimos muitas vezes. E de forma bela e lúdica, mostra como um amor progride, bem como, ele mostra outros tipos de conexões que a vida nos oferece, como família, amigos, tempo e alegrias pequenas geradas por nossas conquistas. Este não é um drama para ser maratonado, e muito menos, indico a ele a todas as pessoas, este é um drama para ser apreciado na calmaria. Logo, é um dos melhores dramas que já assisti do gênero.
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Imagens|Gifs: Reprodução/tvN
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