You Are My Spring: quando a primavera desabrocha dentro de nós

Olá, tudo bem com vocês?
Aqui quem escreve é a Brenda. Já faz um bom tempo que escrevi uma resenha, ando bem enferrujada. No entanto, hoje apareci aqui para tagarelar com vocês sobre o K-Drama You Are My Spring (2021), que foi uma verdadeira surpresa para mim. Quer dizer, eu esperava que seria muito bom, mas não imaginava que iria amar tanto. Continuem comigo neste texto para descobrir os motivos de tanto amor. Aliás, You Are My Spring possui 16 episódios, disponíveis para serem assistidos na Netflix.
Escrever uma sinopse para o drama não é fácil; todas parecem inadequadas, mas vou tentar resumir para vocês do que se trata. You Are My Spring conta a história de três crianças… Melhor, de três adultos que carregam em seus corações as cicatrizes advindas da infância. Eles estão interligados pelo passado, e seus caminhos se cruzam no presente. Kang Da Jeong é nossa protagonista e uma dessas crianças. Ela trabalha em um hotel, e nos minutos iniciais do K-Drama já conhecemos um pouco de sua turbulenta infância. Da Jeong acabou de se mudar para um prédio novo. Lá, seu caminho se cruza com o de seu vizinho e psiquiatra Young-Do. Ele também parece ter seus próprios fantasmas do passado para enfrentar. Como vizinhos, os dois estabelecem uma relação cordial, que ao longo da trama vai crescendo.
Do outro lado dessa história, temos Jeong Min, um jovem simpático, suspeito e apaixonado por Da Jeong. A trama dele traz o elemento de mistério e surpresa ao drama.
Mistério e surpresa? Como assim, Brenda?
Exatamente! O primeiro ponto interessante sobre You Are My Spring é que ele não é uma história com triângulo amoroso, como muitos imaginaram ao ler a sinopse disponível. Na verdade, é um K-Drama com elementos de mistério, melodrama e romance. Desde os episódios iniciais, a trama estabelece um mistério a ser resolvido que trata basicamente do passado dos personagens. Temos alguns casos de assassinato e uma narrativa contada por meio de flashbacks, que instigam o telespectador a pensar: Quem é o assassino? Como isso está ligado aos três personagens principais? Quais são as implicações disso? Nesse sentido, os primeiros episódios já são um ponto de surpresa. Depois, o drama apresenta algumas leves reviravoltas, fazendo quem está assistindo se perguntar: O que diabos está acontecendo?

No entanto, se há uma característica marcante em You Are My Spring, é o equilíbrio. Tudo na história está na medida certa, e o elemento que aparece com mais destaque é o romance entre os dois personagens principais. Da Jeong passa a manter contato com Young-Do, e vice-versa, já que ele é seu vizinho. Nesse processo, Young-Do também se torna um bom amigo para nossa protagonista, ouvindo e reconfortando suas dores. O tipo de romance que nasce entre Da Jeong e Young-Do é o que eu mais amo assistir: eles se aproximam aos poucos, por meio de muita conversa e parceria, de forma bem natural. É aquele romance que gera muitas cenas engraçadinhas, fofas e reflexivas, pois os diálogos entre eles são perfeitos, poéticos e ricos. Todo o drama tem esse clima de poesia.
A relação entre os dois é verdadeiramente saudável e bem construída na narrativa. Em todas as cenas deles, com exceção das tristes, meu coração ficava quentinho, e um sorriso logo surgia no meu rosto enquanto assistia. Seus olhos brilhavam, e eu ficava nas nuvens vendo. Já nas cenas tristes, as lágrimas inevitavelmente apareciam, deixando o coração dolorido pelos dois. O casal protagonizou várias cenas emocionantes e dignas de aplausos.
Parafraseando o título do drama – You Are My Spring – acompanhar o romance dos dois era como ver uma flor desabrochar em plena primavera. Seus dias iam ficando mais floridos e coloridos, assim como os nossos. É um romance de cura. A partir do momento em que se encontram, Da Jeong e Young-Do crescem juntos e enfrentam suas dores de mãos dadas. Não é à toa que Da Jeong se torna a primavera de Young-Do, e acredito que ele também seja a primavera dela. Eles se encontraram na vida num momento em que estavam sofrendo, quando seguiam suas vidas, mas com a dor ainda escondida no coração. Juntos, alegraram, abrilhantaram e floriram a vida um do outro, carregando bons sentimentos, sendo um ombro amigo, oferecendo um pirulito, permitindo-se agir como loucos, reaprendendo a voar como borboletas. E, mesmo quando a primavera passa, eles continuam sendo primavera um para o outro.

Veja só: Da Jeong e Young-Do, apesar de à primeira vista parecerem bem diferentes, se assemelham em muitos aspectos. Da Jeong passou a maior parte da vida adulta entrando em relacionamentos fracassados desde o início. Isso porque seu intuito era se colocar em situações difíceis, como um relacionamento ruim com um alcoólatra, para ver se conseguia superar. Era como se ela repetisse um ciclo infinito que advinha de sua infância, sem estabelecer laços reais e se fechando. Era quase como um auto sacrifício: uma forma de se punir, ferir ainda mais e tentar reverter o quadro geral. Assim, mesmo tendo uma personalidade extrovertida, suas feridas permaneciam abertas, e ela se sentia cansada.
Do mesmo modo, Young-Do passou a maior parte de sua vida colocando os outros em primeiro lugar, sacrificando-se e tendendo a fugir de situações que envolvem sentimentos difíceis. Ele não queria ser um peso para ninguém. Young-Do é uma pessoa extremamente gentil e bondoso. Aliás, abro um parêntese para dizer que ele entrou na minha lista de protagonistas favoritos! Ambos os personagens têm feridas abertas e sentimentos de culpa constantes devido às infâncias hostis que viveram. Quando se encontram, conseguem reconhecer vontades e sentimentos semelhantes.
Não posso falar muito sobre a terceira criança dessa história, pois qualquer detalhe seria um spoiler que comprometeria a experiência de quem ainda não assistiu. Mas é muito interessante e doloroso acompanhar sua trajetória.
Não pensem, porém, que You Are My Spring é só tristeza. Na verdade, a história tem muitos momentos leves, especialmente por conta das interações entre o casal principal. Há muitas cenas divertidas e fofas entre eles. Nesse ponto, os personagens secundários desempenham um excelente papel em trazer o cômico para a narrativa. O drama apresenta muitos personagens secundários, como os dois melhores amigos de Young-Do, a amiga e o irmão da amiga de Da Jeong, a mãe e o irmão de Da Jeong, a atriz Ga Yeong (ex-esposa de Young-Do e amiga de Da Jeong), o namorado de Ga Yeong, e muitos outros.
O interessante é que o drama cria uma boa narrativa mesmo com tantos secundários. Isso porque dá maior espaço ao casal principal, reservando momentos menores, mas significativos, para os coadjuvantes. Esses trechos servem para contar um pouco de suas histórias e passar mensagens importantes, articulando bem com a proposta central. Ainda assim, o drama nos deixa curiosos, querendo saber mais sobre esses personagens, já que todos são interessantes e carismáticos.

Dito isso, temos dois casais secundários que, apesar de aparecerem pouco, conquistam nossos corações. O primeiro é formado por Ga Yeong e Patrick, namorado dela. Eles compõem um casal da indústria do entretenimento, e ela é mais velha que ele. A trama pincela levemente algumas questões relacionadas às restrições que eles enfrentam por não poderem viver o relacionamento abertamente. Eu adorei esses dois! Ga Yeong é uma personagem maravilhosa, maluca e divertida, mas com um grande coração, apesar de já ter passado por muitas dificuldades. Patrick, por sua vez, é uma fofura e faz tudo por ela.
O outro casal secundário é uma surpresa para quem não assistiu, já que só aparece na segunda metade da trama. Não quero estragar a experiência de ninguém revelando quem são, mas posso dizer que achei a relação deles muito interessante. Gostaria de ter visto mais sobre o envolvimento desses dois e também sobre as outras etapas do relacionamento de Patrick e Ga Yeong. Ambos os casais possuem conflitos interessantes que poderiam render até um novo drama.
Outro aspecto que precisa ser destacado é o lado técnico do K-Drama. A fotografia é um primor, e as transições e cortes de cena são muito bem feitos (não sei se esse é o termo correto, mas espero que entendam). O enquadramento das cenas é excelente. A direção está de parabéns! You Are My Spring é poético não apenas pelo roteiro maravilhoso, mas também porque cada detalhe da direção contribui para isso. Há sutilezas presentes nas cenas, como uma lanterna que se acende em um quadro, a claridade em outro, uma borboleta desenhada, uma flor selvagem ao lado de um pirulito, ou até mesmo um beijo à luz do sol. Tudo é bem pensado e transmite as emoções de cada momento com perfeição.
Talvez por isso o drama consiga finalizar sua história tão bem, resolvendo o mistério de forma satisfatória e dentro da proposta.
Mudando de assunto, mas nem tanto, preciso destacar a trilha sonora. A OST do drama é maravilhosa, presente e muito bem colocada. E não posso deixar de elogiar as atuações. Eu sabia que o elenco ia arrasar, e arrasou mesmo. Seo Hyun Jin estava impecável! Vai ser difícil esquecer aquela cena em que sua personagem chora no consultório de Young-Do. Ela conseguiu transmitir todas as dores da protagonista e, ao mesmo tempo, representar uma personagem divertida. Kim Dong Wook também brilhou! Ele conseguiu expressar tudo apenas com o olhar. Era lindo ver como os olhos de Young-Do brilhavam ao olhar para Da Jeong. Ele trouxe à vida um personagem contido, com traumas, mas ao mesmo tempo gentil e desajeitado. A química entre os dois foi incrível, indo dos momentos dolorosos aos divertidos com naturalidade.

Por fim, é impossível não comentar sobre o aspecto reflexivo do drama. Ao abordar as feridas de todos os personagens da obra, nesse sentido, até os secundários têm suas feridas expostas, mesmo que de forma reduzida, como a mulher que quase se matou com a morte do marido ou a que passa por um término de um relacionamento de anos. O drama transmite diversas mensagens, mas as principais são lições de conforto, que acalentam nosso coração e dizem para nós: “tudo bem”, “vai ficar tudo bem”, “todos nós temos feridas”, “não há mal algum em tê-las, só temos que buscar curá-las”. É como um abraço quentinho. A história escancara frases marcantes, denotando muitas barreiras psicológicas humanas. Aliás, pelo fato de Young-do ser um psiquiatra, as reflexões se tornam mais profundas e com um aspecto psicológico mais marcante. Assim, o drama discute bastante sobre os relacionamentos humanos em geral, mostrando que pode ser difícil deixar alguém entrar em seu coração, que isso pode magoar, mas que, mesmo com tudo, devemos nos permitir.
Outrossim, o drama também oferece um enfoque central bastante necessário, já que a história discorre sobre os traumas advindos da infância, as feridas físicas e emocionais que as crianças são submetidas desde muito jovens e como isso molda suas vivências quando adultas, seu comportamento e modo de enfrentar o mundo. Ao fazer isso, a trama toca em temas como violência doméstica, abuso infantil, abandono familiar, luto, traumas psicológicos, a própria concepção de uma família destruída, as diversas maneiras que uma infância traumática pode se manifestar em um adulto, proporcionando até que ele se torne um criminoso ou adquira sentimentos raivosos, entre outros assuntos. Enfim, ao assistir a isso, é impossível não refletir sobre como as crianças vêm sendo tratadas, ou o quanto determinados caminhos da vida podem ser traumáticos, até mesmo o quanto há de nós hoje nas experiências que passamos na infância. É um drama que mostra as vítimas e como elas podem também se tornar agressores ou o quanto isso pode sufocá-las. Afinal, quantas pessoas por aí estão sofrendo, não é?
You Are My Spring é como se fosse um livro reconfortante de tão poético, caloroso, reflexivo e bonito que é, a todo o momento com uma frase que vai tocar fundo na nossa alma, que, às vezes, é uma alma perturbada por estações rigorosas. You Are My Spring ensina que devemos ser primavera para as pessoas em nossa vida, convida-nos a desabrocharmos para nós mesmos e para os outros. E como fazer isso? You Are My Spring responde dizendo que os pequenos gestos significam muito. Construa pequenas ações boas na vida de outra pessoa, seja por meio de um pirulito que pode tornar o dia dessa pessoa mais doce, de um abraço, de uma palavra gentil ou de um acalento. Viva os pequenos momentos e a raridade de estar vivo, agradeça, seja primavera e espere… a primavera chega para todos.