Vale a pena assistir Cheese in the Trap? Analisamos o k-drama da estudante desconfiada e do namorado misterioso
Lançado em 2016, Cheese in the Trap prometia ser um drama universitário diferente do comum: com tensão psicológica, personagens complexos e um enredo mais realista, longe dos romances açucarados típicos do gênero. Adaptado de um webtoon de sucesso, o drama contava com Kim Go Eun no papel da estudante inteligente e observadora Hong Seol, e Park Hae Jin como o carismático (e enigmático) Yoo Jung.
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A expectativa era alta, principalmente por ser uma história sobre manipulação, relações desequilibradas e aparências enganosas. A premissa era ousada.
Mas… será que Cheese in the Trap conseguiu manter essa ousadia até o fim?
Vamos conversar.
A premissa: um romance (e um suspense) no campus universitário
Hong Seol é uma aluna esforçada, vinda de uma família de classe média, que começa a desconfiar do comportamento de Yoo Jung, o estudante “perfeito” da universidade. Ele é educado, bonito, popular, mas por trás do sorriso gentil, esconde algo… inquietante.
Conforme os dois se aproximam, Seol começa a mergulhar em uma relação ambígua, cercada por ciúmes, rivalidades, mentiras e personagens que sempre parecem esconder uma segunda intenção.
A proposta é intrigante: um romance psicológico com protagonistas ambíguos e situações que exploram o que há de tóxico nos relacionamentos aparentemente normais.
Mas o drama se perde, e feio.

Onde Cheese in the Trap tropeça (e não se recupera):
1. Um começo promissor… seguido de uma bagunça narrativa
Os primeiros episódios criam tensão com inteligência: os silêncios de Yoo Jung, os olhares de Seol, os pequenos detalhes que fazem o espectador desconfiar de tudo. Até aí, excelente.
Mas com o passar dos episódios, o roteiro começa a se perder. A história muda o foco, personagens secundários ganham tempo demais, e o próprio protagonista masculino simplesmente… desaparece por boa parte do drama.
É como se o drama esquecesse quem são seus personagens principais, e isso afeta totalmente o impacto emocional da narrativa.
2. Um romance sem segurança emocional
Yoo Jung é, desde o início, uma figura dúbia: ele manipula, observa, planeja e, muitas vezes, age por vingança. A relação entre ele e Seol nunca parece saudável. O roteiro até tenta suavizar suas atitudes, mostrando que ele “tem seus motivos”, mas não entrega redenção nem transformação suficiente para justificar o vínculo dos dois.
Seol, por outro lado, vive em constante desconforto, confusão e medo. Em vez de desenvolverem um relacionamento com base em compreensão e confiança, o que vemos é um jogo de controle e desconfiança mútuos.
Não dá para torcer por esse casal, e se você o faz, eu estou te julgando.
3. Desvio total do protagonista (e da história)
Talvez o maior erro de Cheese in the Trap seja seu abandono completo de Yoo Jung como personagem central. Nos episódios finais, o foco vai para Baek In Ho (Seo Kang Joon), o coadjuvante, que assume quase o papel de protagonista enquanto Jung praticamente some da história.
O resultado? Um desequilíbrio narrativo absurdo. Quem estava investido na relação entre Seol e Jung se sente traído. Quem esperava ver o conflito psicológico se aprofundar, vê tudo ser substituído por um triângulo amoroso forçado e mal resolvido.
4. Um final que não entrega nada
Depois de muitos episódios de tensão, angústia e incertezas, o final de Cheese in the Trap é anticlimático, inconclusivo e frustrante. Nenhum arco se fecha de verdade, o relacionamento dos protagonistas termina de forma fria e abrupta, e até as questões emocionais centrais, como o passado de Yoo Jung ou a posição de Seol em tudo isso, são deixadas em aberto.
Faltou coragem, coerência e respeito ao que o drama prometeu nos primeiros episódios.

Poderia ter sido melhor…
1. Desenvolvimento consistente dos protagonistas
Yoo Jung e Seol tinham tudo para serem personagens complexos, mas o roteiro os abandona.
2. Exploração mais profunda da manipulação e da toxicidade
O drama arranha temas importantes, mas desiste de aprofundá-los.
3. Menos foco em personagens secundários irrelevantes
O drama perde muito tempo com tramas paralelas sem impacto real.
4. Final com propósito
O final é vago e covarde, sem resolução emocional.
Há pontos positivos? Sim, e eles não devem ser ignorados.
- A atuação de Kim Go Eun é excelente. Ela entrega nuances, tensão e humanidade à sua personagem.
- Park Hae Jin também se sai bem como Yoo Jung, criando uma figura ambígua que consegue causar fascínio e desconforto ao mesmo tempo.
- A cinematografia é sutil e elegante, com direção de arte que combina bem com o clima psicológico da série.
- A trilha sonora é delicada e eficaz, ajudando a criar a atmosfera incômoda que o drama exige.
Mas, novamente, nada disso se sustenta quando o roteiro simplesmente abandona sua própria premissa.

Então… vale a pena assistir Cheese in the Trap?
Se você está curioso pelo início, gosta de histórias mais introspectivas e quer conferir boas atuações, talvez os primeiros episódios te fisguem.
Mas se você procura uma história com começo, meio e fim coesos; desenvolvimento de personagem sólido; e um romance que faça sentido emocional e narrativamente…
Não, não vale a pena.
Cheese in the Trap começa com potencial, mas termina como um exemplo de como um bom conceito pode ser sabotado por decisões mal conduzidas nos bastidores. A mudança de foco, a descaracterização dos personagens e o final sem peso emocional fazem com que o drama seja mais lembrado pela frustração do que por sua qualidade.