Qual é a verdadeira história por trás do k-drama The Red Sleeve?

Lançado em 2021 pela MBC, The Red Sleeve foi um dos k-dramas que mais amados pelas dorameiras, as quais (diga-se de passagem) também saíram dele traumatizadas. Estrelado por Lee Jun Ho e Lee Se Young, o drama apresenta a delicada e dolorosa relação entre um rei e sua dama da corte, revelando as dores de amar dentro dos limites de uma monarquia, além de mostrar uma combinação de romance, tensão política e estética impecável da era Joseon.
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Neste post, vamos explorar quem foram essas figuras históricas, o que há de verdadeiro na narrativa e como a história real é, por si só, tão comovente quanto sua adaptação.
Quem foram Rei Jeongjo e Seong Deok Im?
Rei Jeongjo: o monarca entre o dever e a dor

Nascido em 1752, Jeongjo (nome pessoal Yi San) foi o 22º rei da Dinastia Joseon, com um reinado que durou de 1776 até sua morte em 1800 e é frequentemente lembrado como um período de tentativa de reformas, incentivo ao confucionismo ilustrado e busca de justiça, muito influenciado pela tragédia pessoal que o acompanhou desde a infância: a execução de seu pai, o Príncipe Sado, sob ordens do próprio avô, o Rei Yeongjo.
Essa ferida moldou Jeongjo como um monarca sensível à dor humana e preocupado em reconstruir a dignidade do pai. Seu governo teve inúmeros obstáculos políticos, mas também foi marcado por tentativas de equilibrar poder e ética, um reflexo do homem por trás da coroa.
No drama, vemos um Jeongjo dividido entre a figura do rei e o homem apaixonado. Essa tensão é historicamente plausível: Jeongjo era conhecido por registrar em detalhes suas emoções e reflexões nos diários reais, revelando um lado humano e introspectivo que o drama explora com delicadeza.
Seong Deok Im: a mulher que escolheu mais do que o amor

Nascida em 1753, Seong Deok Im era dama da corte do Palácio Changdeokgung. E, embora se saiba relativamente pouco sobre sua juventude, os registros indicam que ela era educada, discreta e respeitada entre as damas da corte. Em determinado momento, atraiu a atenção de Yi San, que ainda era o príncipe herdeiro.
Diferente de outras mulheres da corte, Seong Deok Im recusou, mais de uma vez, a oferta do rei de se tornar sua concubina, algo altamente incomum e arriscado para a época. A recusa não era movida por desrespeito, mas por uma consciência profunda de que aceitar significaria abdicar de si mesma: de sua liberdade, de sua tranquilidade e de sua identidade como mulher e não apenas como parte do harém real.
No drama, essa resistência é representada como um dos eixos centrais da personagem. A Deok Im de Lee Se Young é determinada, lúcida e muito mais do que uma figura romântica, ela é símbolo da mulher que quer amar sem se anular. E essa essência encontra ressonância nos registros históricos.
Um amor marcado pela perda
Em 1780, após anos de recusa, Seong Deok Im finalmente aceita se tornar concubina real e recebe o título de Uibin Seong. Confira um trecho de “Epitáfio de Uibin Seong” escrito pelo Rei Jeongjo em 1786, documenta sua história romântica com Seong Deok Im: “recusou minha proposta, arriscando sua vida, dizendo que a Rainha Hyoui [1754-1821] ainda não havia dado à luz filhos. Fiquei comovido com isso e não forcei mais a barra”. Confira mais

Em 1782, a agora concubina Deok Im dá à luz o primeiro filho homem de Jeongjo, o Príncipe Herdeiro Munhyo. Porém, quando tudo parecia caminhar para uma estabilidade, o destino foi cruel.
Em junho de 1786, o pequeno príncipe morreu de sarampo com apenas 22 meses de vida. Quatro meses depois, aos 33 anos, Uibin Seong também faleceu, grávida de seu terceiro filho. A perda devastou o rei. Nos registros reais, Jeongjo menciona Uibin centenas de vezes após sua morte, sempre com pesar e saudade. Ele escreveu pessoalmente os epitáfios de seus túmulos e pediu que fossem enterrados lado a lado, um gesto raro e tocante para um rei com várias concubinas.
Esse amor silencioso e profundo é o núcleo de The Red Sleeve. Mais do que palavras trocadas, o drama expressa esse sentimento através de olhares, gestos e a ausência deixada pela partida de Seong Deok Im.
Entre a ficção e os registros

Embora The Red Sleeve se inspire fortemente em documentos históricos, especialmente nos Annals of the Joseon Dynasty e nos diários do próprio rei, algumas liberdades poéticas foram tomadas para criar uma narrativa mais dramática e envolvente:
- As recusas ousadas de Seong Deok Im são reais, mas no drama elas acontecem com mais frequência e intensidade do que provavelmente seria possível em uma corte rígida;
- A ausência da Rainha Hyoui, esposa legítima de Jeongjo, é uma escolha narrativa que simplifica o enredo, mas esconde o fato de que o rei já era casado ao cortejar Deok Im;
- Os encontros românticos e diálogos íntimos entre os dois protagonistas são fictícios, embora baseados na ideia de que havia uma conexão emocional autêntica entre eles.
Essas escolhas não diminuem o valor histórico do drama, mas o transformam em uma interpretação sensível de uma história real, contada sob a lente do amor que sobrevive ao tempo e à morte.
O legado de uma história de amor
A relação entre o Rei Jeongjo e Uibin Seong transcendeu a tragédia pessoal. Ela se tornou um símbolo raro de amor e respeito mútuo dentro do sistema de concubinato da era Joseon, onde muitas vezes as relações eram marcadas por conveniência, hierarquia e interesses políticos.

The Red Sleeve oferece uma visão emocionante desse vínculo. Ao fazer da voz e o desejo de liberdade de Deok Im o fio condutor da narrativa, o drama nos convida a refletir sobre o que é amar dentro de um sistema que dita regras para tudo, até para os sentimentos.
Para saber mais
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