Full House (2004): Ainda vale a pena assistir em 2025?
Há certos dramas que parecem ter saído diretamente de uma memória afetiva coletiva e Full House é um deles. Quem começou a acompanhar k-dramas no início dos anos 2000 provavelmente guarda lembranças vivas das brigas cômicas, das músicas repetidas até a exaustão, das roupas extravagantes e, principalmente, da tensão constante entre duas pessoas que não sabiam se odiavam ou se amavam.
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Mas em 2025, quando os dramas coreanos atingiram um novo patamar de escrita, direção e sensibilidade, Full House ainda resiste como uma boa opção? Ou ficou apenas como uma relíquia de outra era?
O enredo que virou fórmula
Full House conta a história de Han Ji Eun (Song Hye Kyo), uma aspirante a roteirista que, após ser enganada por seus “melhores amigos”, perde a casa onde cresceu. A casa é comprada pelo astro famoso Lee Young Jae (Rain), e os dois acabam firmando um casamento de fachada por conveniência, ele para fazer ciúmes à mulher que ama, ela para ter onde morar e tentar recuperar sua vida. O que começa como um relacionamento puramente contratual vai, aos poucos, se transformando em algo mais profundo, e mais confuso.

Se a premissa soa familiar, é porque Full House praticamente definiu a fórmula que seria copiada (e refinada) por muitos dramas nas décadas seguintes: casamento por contrato, casal que vive em pé de guerra, e amor que nasce onde não deveria.
O que Full House ainda tem de especial?
1. Um dos primeiros grandes sucessos internacionais
Na época, Full House foi um fenômeno. A química entre Rain e Song Hye Kyo, o apelo da comédia romântica leve e os cenários encantadores, especialmente a própria casa à beira-mar, cativaram o público de maneira avassaladora, abrindo portas para a popularização do k-drama no exterior.
2. Carisma e timing cômico dos protagonistas
Rain, mesmo com atuação ainda imatura, entregou carisma puro. Song Hye Kyo, por sua vez, conseguia equilibrar leveza e doçura, criando uma personagem que era atrapalhada, mas não irritante. As brigas entre o casal, cheias de infantilidade, funcionam dentro da proposta quase caricata da série.
3. Trilha sonora que gruda (para o bem e para o mal)
Você pode não lembrar da trama em detalhes, mas I Think I e Sha La La continuam ecoando na mente de quem viu o drama, seja com carinho, seja com um leve desespero. A trilha virou um símbolo do próprio drama.
4. Um humor físico que, na época, era novo
Full House apostava em piadas visuais, cenas exageradas, expressões teatrais e situações absurdas, algo pouco comum nos dramas coreanos até então. Isso criou uma identidade que, por um tempo, parecia revolucionária.
O que não funciona mais tão bem hoje?
1. Uma comédia que beira o infantil
O humor de Full House, embora simpático, envelheceu como uma revista de piadas dos anos 90. As brigas constantes, as provocações imaturas e a insistência em repetir as mesmas situações até esgotá-las fazem com que o enredo parece um desenho animado em certos momentos.
2. Ritmo repetitivo e falta de profundidade
O drama se apoia em idas e vindas intermináveis entre o casal, em mal-entendidos pouco convincentes e em triângulos amorosos forçados. Pouco se aprofunda nos sentimentos ou na psicologia dos personagens. Passam-se os episódios e a sensação é de que tudo gira no mesmo lugar.
3. Dinâmica do casal que pode incomodar
O protagonista masculino, embora carismático, é controlador, explosivo e frequentemente grosso. Ji Eun, por sua vez, tolera abusos emocionais sob a justificativa do contrato e da gratidão. A relação, retratada como fofa e cômica na época, hoje pode ser vista como tóxica e desequilibrada.
4. Estética e produção muito datadas
Roupas questionáveis, cortes de cabelo peculiares, cenários artificiais e uma edição repleta de trilhas sonoras excessivas fazem de Full House um retrato visual dos anos 2000, o que pode soar encantador para uns, mas risível para outros.
Veredito: memória afetiva ou relevância?
Full House foi, sem dúvida, um pilar para a construção da comédia romântica coreana moderna. Mas ser importante historicamente não é o mesmo que ser agradável de assistir hoje.
O drama exige paciência, tolerância a exageros e uma predisposição à nostalgia.
Quem o viu na época provavelmente vai reviver sensações queridas e quem vê pela primeira vez em 2025 talvez se pergunte como esse enredo tão raso fez tanto sucesso.
Isso não tira seu valor. Mas o valor está mais no que representou do que no que ainda é, logo, a resposta final é de que sim, ainda vale a pena, mas requer paciência e filtro de lente.