Wonderful World: a dor de seguir em frente

Wonderful World: a dor de seguir em frente

Como transformar o nosso mundo em algo maravilhoso mesmo em meio à dor?
Como continuar quando as pessoas que mais amamos nos são tiradas? E, mais profundo ainda, como acreditar na beleza da vida quando todas as nossas alegrias foram arrancadas de nós?

Essas são as perguntas que ecoam em Wonderful World, drama que acompanha Soo Hyun (Kim Nam Joo), uma professora e autora renomada que vê sua vida ruir após a morte trágica do filho em um atropelamento. Incapaz de suportar a injustiça e a dor, ela decide fazer justiça com as próprias mãos e mata o homem responsável pelo crime. A consequência é inevitável: Soo Hyun é presa e só conquista sua liberdade seis anos depois. Mas que liberdade é essa quando o passado continua a assombrar cada passo? Como lidar com a culpa e o luto que insistem em permanecer?

Em uma de suas visitas ao túmulo do filho, Soo Hyun conhece Seon Yeoul (Cha Eun Woo), um jovem misterioso que, aos poucos, passa a cruzar seu caminho constantemente. Ele também carrega feridas profundas e um silêncio cheio de peso. Entre ambos nasce uma conexão imediata, feita de dores que se reconhecem e feridas que se entendem. É nessa relação delicada, atravessada por segredos e mágoas, que o drama encontra seu ponto mais humano e sensível.

Wonderful World combina melodrama e mistério, conduzindo a narrativa em um ritmo mais lento e contemplativo do que os thrillers tradicionais. A trama gira em torno da morte do filho de Soo Hyun, mas o enredo se ramifica em outros mistérios, envolvendo o marido da protagonista, sua irmã e o próprio Seon Yeoul. Cada revelação adiciona camadas emocionais, embora algumas reviravoltas secundárias acabem diluindo o impacto do mistério central, que é deixado para ser destrinchado apenas no final da trama.

Quanto a isso, não é difícil identificar o principal vilão da história, e se algumas poucas reviravoltas funcionam, outras podem não surpreender o telespectador mais atento ou aquele já acostumado com enredos de mistério.

Ainda assim, o drama tem força emocional nas atuações, especialmente na entrega comovente de Kim Nam Joo, que transmite o desespero, a culpa e o vazio de uma mãe que perdeu tudo. Cha Eun Woo, por sua vez, surpreende com uma atuação contida e madura, revelando um lado introspectivo e profundo de sua carreira, talvez sua melhor atuação até agora.

Visualmente, Wonderful World é impecável. A cinematografia fria e melancólica reforça a atmosfera de luto e introspecção, enquanto a trilha sonora conduz o espectador pelas nuances da dor e da esperança.

Outro ponto que merece destaque é a relação entre Seon Yeoul e Soo Hyun, um dos laços mais envolventes da trama, não é um romance, mas um vínculo bonito e profundo à sua maneira. Eles se reconhecem em meio à dor e, acima disso, vão desfazendo camada por camada de suas próprias histórias pessoais, enquanto precisam lidar com tudo o que o passado ainda chama: assuntos não resolvidos, mágoas e arrependimentos.

O drama coloca frente a frente duas pessoas que entendem o que é perder algo precioso, que sabem como é viver à deriva e não ver mais tanto sentido na vida. Talvez, no momento em que o conhecemos, Seon Yeoul esteja em um estado ainda mais devastado do que Soo Hyun, carregando mágoa e ódio intensos dentro de si (Eu gostaria que eles tivessem explorado mais conversas profundas entre os dois, inclusive).

De certa forma, o drama também nos diz que a morte não dói apenas no momento em que acontece, ela se espalha e atravessa todos os que ficam. Ela destrói muito mais do que uma vida; mata algo dentro de todos que amam. Essa percepção torna tudo mais complexo, porque dá início a um ciclo interminável de dor.

Gosto que Wonderful World não seja bondoso demais e não diga que a dor passa facilmente, ao contrário, ele afirma que não passa. Mostra que o luto e a culpa não desaparecem, mas nos acompanham. A culpa, principalmente, é um peso que nos lança em uma espiral difícil de escapar. Sabemos que se culpar não adianta nada, mas, como parar de se culpar?

O drama também é ágil em mostrar que nossas decisões têm consequências, e que muitas delas, especialmente as mais difíceis, não são tomadas de forma racional ou justa. Às vezes, são egoístas e equivocadas. Por outro lado, Wonderful World nos convida a refletir sobre impunidade, sobre o tratamento dado às mulheres e mães diante do sistema e, principalmente, sobre os mais frágeis perante os poderosos. Ele fala sobre vítimas — da morte, das injustiças, do silêncio — e sobre como tudo isso pode ruir vidas inteiras.

Mesmo com essas reflexões realistas, a narrativa também quer nos contar uma história sobre reerguimento. Ele mostra que, mesmo em meio à tragédia e à melancolia, ainda é possível se levantar.

Não posso dizer que amei cada segundo de Wonderful World, os tropeços na construção do mistério, a prolongação de tramas secundárias e o ritmo irregular são seus principais defeitos. Mas as palavras de Soo Hyun permanecem em mim, como uma síntese da jornada que o drama propõe:

“No meio da jornada da vida, me perdi e vaguei. Não importa quanto tempo passe, perder alguém precioso para você sempre será solitário. Tentarei seguir em frente. Se eu continuar, um dia a dor diminuirá. Espero que todos os que estão de luto encontrem conforto. Espero que o mundo seja mais amigável com aqueles que sofrem. Espero que um mundo lindo surja enquanto vocês superam sua dor.”

Wonderful World não é sobre um mundo já maravilhoso, é sobre o esforço humano de reconstruí-lo, mesmo quando tudo parece perdido. É sobre seguir, mesmo ferido. E, à medida que continuamos com a esperança de transformar nosso mundo em algo maravilhoso, essa esperança pode, pouco a pouco, tornar-se realidade.

Dísponível para assistir na Disney +

Brenda Mendes

Historiadora, professora e criadora de conteúdo digital, está sempre em busca de uma nova história para desbravar e aquecer seu coração, apaixonada por doramas de romance e slice of life, é uma leitora ávida há mais de 10 anos.

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