When Life Gives You Tangerines: Entre a doçura e a amargura da vida

When Life Gives You Tangerines: Entre a doçura e a amargura da vida

O que realmente define uma boa vida? Até onde temos controle sobre nosso destino? When Life Gives You Tangerines nos conduz por uma jornada de décadas, explorando os pequenos momentos que moldam a existência, o peso das escolhas e a inevitabilidade do tempo. Em meio ao cenário pitoresco da Ilha de Jeju, o drama não busca grandes reviravoltas, mas encontra profundidade no cotidiano — nos gestos silenciosos de amor, na renúncia que o afeto exige e na luta constante entre o destino e a vontade própria. Ao acompanhar a história de Ae Sun e Gwan Sik, somos convidados a refletir sobre o que deixamos passar despercebido e como, muitas vezes, só compreendemos o valor de um instante quando ele já se tornou memória.

Ao longo de 16 episódios, separados em 4 volumes que acompanham as estações do anoprimavera, verão, outono e inverno — o drama desenha a vida como um ciclo de transformações inevitáveis. Cada estação marca não apenas a passagem do tempo, mas as mudanças sutis e profundas nas relações, nos sonhos e nas renúncias dos personagens. A juventude esperançosa da primavera dá lugar à intensidade e brutalidade do verão, onde as escolhas começam a pesar. O outono traz o amadurecimento e a nostalgia do que poderia ter sido, enquanto o inverno chega com sua melancolia inevitável, mas também com a aceitação daquilo que jamais pode ser mudado. Com uma narrativa que respeita o ritmo natural da vida, When Life Gives You Tangerines nos lembra que amar e perder fazem parte da mesma jornada — e que, às vezes, o que mais importa não são os grandes gestos, mas os detalhes esquecidos no meio do caminho.

A trajetória de Ae Sun e Gwan Sik se desdobra como um romance de queima lenta ao longo de algumas décadas, onde cada escolha, cada sacrifício e cada renúncia revelam a profundidade de um amor que transcende o tempo e as perdas. Desde os dias em que os sonhos eram o principal combustível para suas vidas, até os momentos em que as responsabilidades e as cicatrizes do passado se fazem presentes, o casal enfrenta juntos os altos e baixos que a existência impõe, demonstrando que o verdadeiro amor se constrói na soma dos gestos cotidianos e da resiliência diante das adversidades.

Ae Sun (IU), a ‘menina poeta de Jeju’, é retratada como uma mulher de complexidade singular: inteligente, resiliente e dotada de uma sensibilidade que reflete tanto suas conquistas quanto as marcas deixadas pelo tempo. Ela personifica a dualidade entre força e vulnerabilidade, equilibrando seus desejos pessoais com as imposições sociais. Ao longo dos episódios, sua jornada é pontuada por escolhas difíceis e momentos de profunda introspecção, revelando que a verdadeira coragem reside na capacidade de se reinventar mesmo diante das maiores perdas.

Gwan Sik (Park Bo Gum), por sua vez, surge como um exemplo de ternura em meio a uma sociedade que frequentemente exalta o conservadorismo masculino. Com uma sensibilidade incomum, ele desafia convenções e opta por viver o amor de forma autêntica, mesmo que isso signifique suportar sofrimentos. Sua trajetória evidencia um homem que, mesmo diante das adversidades e das falacias de sua mãe e avó, mantém viva a esperança de oferecer um amor genuíno e incondicional, demonstrando que a verdadeira força está em se entregar sem reservas.

A relação entre Ae Sun e Gwan Sik vai além do romance convencional, revelando a complexidade das interações humanas. Juntos, eles constroem uma família com três filhos: Geum Myung, Eun Myung e Dong Myung. Os nomes das crianças — que significam ouro (Geum), prata (Eun) e bronze (Dong) — simbolizam os tesouros de seus pais, refletindo o valor inestimável que cada um representa em suas vidas. A trama evidencia que o equilíbrio entre o ideal e o real é construído por meio de escolhas diárias e gestos silenciosos, capazes de resistir às adversidades do tempo.

Geum Myung (IU), a filha mais velha, personifica os ideais e aspirações que sua mãe nutriu ao longo da vida. Enquanto Ae Sun enfrentou limitações impostas por circunstâncias socioeconômicas, Geum Myung tem a oportunidade de explorar horizontes mais amplos, como frequentar a Universidade Nacional de Seul e fazer um intercâmbio. Essa conquista reflete não apenas seu mérito pessoal, mas também o desejo de Ae Sun de ver sua filha alcançar realizações que lhe foram inacessíveis. A trajetória de Geum Myung, no entanto, não é isenta de desafios; ela enfrenta pressões acadêmicas e sociais que testam sua resiliência e identidade, além de sua busca pelo amor e o peso de carregar o título de “a filha mais velha” e “pilar da família”.

Em uma camada secundária, Geum Myung, em sua jornada em busca do amor, vivencia duas relações significativas que moldam sua compreensão sobre si mesma e sobre o que significa amar. Seu primeiro amor, Park Young Beom (Lee Jun Young), é marcado por um idealismo juvenil e uma paixão intensa. Young Beom, um estudante da Universidade Nacional de Seul, se apaixona por Geum Myung à primeira vista durante a cerimônia de boas-vindas da universidade. Sua devoção é evidente, mesmo após múltiplas rejeições, demonstrando um amor puro e desinteressado. No entanto, apesar da intensidade desse relacionamento, Geum Myung percebe que essa paixão não é suficiente para sustentar uma parceria duradoura.​

Posteriormente, Geum Myung encontra seu segundo amor, o “Picasso” Park Chang Seob (Kim Seon Ho), um artista cuja presença traz estabilidade e compreensão à sua vida. Diferente de seu primeiro amor, este relacionamento é caracterizado por uma conexão mais madura e prática. Chang Seob oferece a Geum Myung um amor que não é apenas apaixonado, mas também sustentador, proporcionando-lhe um parceiro com quem ela pode compartilhar os desafios e as alegrias da vida cotidiana. Essa transição de um amor idealista para um amor mais fundamentado reflete o crescimento pessoal de Geum Myung e sua evolução na compreensão do que realmente deseja em um companheiro.

Eun Myung, o filho do meio, é retratado de maneira que provoca reflexão sobre a dinâmica familiar e as complexidades das relações parentais. Embora amado por seus pais, Eun Myung frequentemente sente-se relegado a segundo plano, especialmente após a trágica perda de seu irmão mais novo, Dong Myung. A dor e o luto consumiram tanto Ae Sun quanto Gwan Sik, levando-os, inconscientemente, a negligenciar as necessidades emocionais de Eun Myung durante um período crítico de sua formação. Essa negligência não intencional resulta em Eun Myung carregando memórias dolorosas de ter sido deixado de lado, contrastando com as lembranças mais positivas de sua irmã. Sua experiência mostra a complexidade do amor parental e como, mesmo sem intenção, os pais podem falhar em equilibrar a atenção e o cuidado entre os filhos.

Dong Myung, o filho caçula, desempenha um papel crucial na narrativa, apesar de sua presença ser breve devido à sua morte prematura. Sua ausência serve como um catalisador para o desenvolvimento dos demais personagens, especialmente Eun Myung e Geum Myung, que lidam com a perda de maneiras distintas. A tragédia de Dong Myung enfatiza a fragilidade da vida e a profundidade do impacto que uma perda pode ter em uma família, explorando temas de luto, culpa e a busca por redenção.

​A narrativa de When Life Gives You Tangerines é meticulosamente entrelaçada com a cadência das estações, onde cada fase não apenas simboliza a passagem do tempo, mas também amplifica as emoções dos personagens. A fotografia, com suas composições esplêndidas, transforma cada cena em uma obra visual que convida à reflexão sobre o significado de viver, amar e perder. A ambientação na ilha de Jeju, com suas paisagens pitorescas e tradições culturais, enriquece a atmosfera do drama.

O elenco de When Life Gives You Tangerines é um show a parte ao entregar atuações de tirar o fôlego, com cada personagem é interpretado com uma autenticidade que transcende a mera representação. IU, nos papéis de Oh Ae Sun e Geum Myung, captura com maestria a essência de mulheres de uma mesma família que são resilientes e enfrentam as adversidades impostas pela sociedade e pelo destino. Park Bo Gum, como Yang Gwan Sik, personifica a força silenciosa e o apoio inabalável, oferecendo uma performance que equilibra delicadeza e profundidade. Moon So Ri e Park Hae Joon também se destacam, trazendo complexidade e humanidade aos seus papéis. A química entre os atores (independente da fase jovem ou da vida adulta) é palpável, tornando as relações entre os personagens ainda mais verossímeis e emocionantes. Além disso, gostei de como o drama trouxe participações especiais de nomes incríveis como Lee Jun Young, Oh Jung Se, Jang Hye Jin e Kim Kang Hoon.

Na essência do drama, a reflexão sobre as perdas é apresentada de forma natural, como uma fase inevitável da vida. A ausência, por mais dolorosa que seja, carrega consigo um misto de tristeza e gratidão, onde cada memória e cada gesto se transformam em uma celebração da vida que se foi. O drama aborda o luto com sensibilidade, destacando a importância da comunidade e do apoio mútuo para superar momentos de dor. As tradições culturais de Jeju, como os rituais para afastar espíritos malignos e as práticas comunitárias, são entrelaçadas na narrativa, enriquecendo a compreensão das personagens e de suas jornadas pessoais.

Entre os momentos mais tocantes, alguns dos quais me emocionaram foram: a cena da perda do filho, onde, mesmo diante da dor avassaladora, Ae Sun e Gwan Sik encontram nos outros filhos e no apoio da comunidade, a força para continuar. A dedicação contínua ao túmulo do filho, protegendo-o das tempestades e deixando oferendas, simboliza o amor eterno e a memória que perdura. Além disso, a decisão de vender a casa e o barco representa não apenas o encerramento de um ciclo, mas também a resiliência de Ae-sun e Gwan Sik enquanto pais, evidenciando a profundidade de um amor que se manifesta na capacidade de suportar as perdas e, ainda assim, continuar a lutar.

O drama nos propõe, ainda, uma reflexão sobre a impermanência das relações e a inevitabilidade das transformações pessoais. Assim como as estações se sucedem, as fases da vida se renovam, trazendo consigo tanto despedidas quanto novas esperanças. Essa perspectiva nos desafia a abraçar as mudanças, reconhecendo que cada fim carrega a semente de um novo começo e que a beleza da existência reside justamente nessa constante metamorfose.

O título When Life Gives You Tangerines (“Se a vida te der tangerinas…”) é uma adaptação do famoso “Quando a vida lhe dá limões, faça uma limonada”, incorporando a tangerina, que é característico da Ilha de Jeju, como um fator emblemático trazendo o título para algo pessoal. Essa escolha não apenas homenageia a cultura local, mas também encapsula a essência do drama: a capacidade de transformar desafios em oportunidades, extraindo do amargo da vida a doçura possível. Ao longo da narrativa, somos lembrados de que, assim como as tangerinas florescem mesmo em condições adversas, os personagens encontram maneiras de crescer e prosperar, apesar das dificuldades que enfrentam. 

Ao refletir sobre o que realmente define uma vida, percebemos que a resposta está na própria experiência narrada por When Life Gives You Tangerines. O drama demonstra que viver é uma arte em constante construção, onde amor, perda e renúncia se entrelaçam para formar uma história única, sempre aberta a novos capítulos. O drama nos lembra que, apesar das adversidades, há uma beleza intrínseca na jornada humana, e que cada momento, por mais efêmero que seja, contribui para a tapeçaria complexa e rica que é a vida.

Se gostou de dramas como Reply 1988 (2015-16), Twenty-Five Twenty-One (2022) e Our Blues (2022), pode gostar de When Life Gives You Tangerines.

Assista When Life Gives You Tangerines na Netflix!

Confira as 3 melhores citações de When Life Gives You Tangerines:

“A vida pode tomar rumos cruéis, mas acredito que o que não está certo não está certo”

“A dor de perder um dos pais corta mais fundo conforme a vida avança, mas a dor de perder um filho fica gravada na parte mais profunda do seu coração”

“Sua mente não pode chorar se seu corpo estiver cansado. Um dia, a vida pode ficar tão difícil que você sinta que não consegue continuar. Não fique parado. Lute com todas as suas forças. Pise no seu cobertor. Are o campo ou até mesmo faça biscates para ganhar algum dinheiro. Diga a si mesmo que você não vai morrer e deve sobreviver, não importa o que aconteça. Reme seus braços e pernas como um louco. Você passará pelas águas escuras e verá o céu. Você será capaz de respirar novamente”

Alice Rodrigues

Estudante de Comunicação social – Jornalismo, e atuando como social media, criadora de conteúdo digital e assessora de imprensa. Além de amar conhecer novas culturas, é viciada em ler e ouvir inúmeros podcast de assuntos variados. Dorameira desde de 2016, adora acompanhar e analisar narrativas e conteúdos que fazem parte da criação de um drama (elenco, filtros usados, fotografia, simbologia das cenas e outros).

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