Lovestruck In The City: uma análise sobre as intermitências do amor

Lovestruck In The City: uma análise sobre as intermitências do amor

Olá pessoas, como estão hoje? O dorama a qual resenharei é um drama sul coreano, de 17 episódios, chamado Lovestruck In The City (2021), também conhecido como ‘Apaixonados na cidade’. Este é um drama produzido pela Kakao TV e é o primeiro de uma série de várias partes intitulada como ‘Way of Love de City Couple’. Ele está disponível para ser assistido através da Netflix.

Como eu disse anteriormente, resenhar este drama não é uma tarefa fácil, eu diria que é árdua, afinal, precisamos entender a cabeça dos personagens para poder descrevê-los e isso é algo que não consegui fazer com alguns dos personagens, pois, Lovestruck não é um drama como os convencionais, onde a narrativa vai sendo construída de pouco em pouco, ele faz o inverso, de pouco em pouco, a narrativa vai sendo descontruída, e só ai conseguimos compreender algumas das ações tomadas pelos personagens, e com este formato, percebemos o quanto as pessoas julgam levianamente, não apenas quem estava dentro da narrativa, os telespectadores (no caso, nós) também fazem isso, tanto que no começo deste drama, é difícil não ficar com raiva de algumas ações, o drama quis nos mostrar a visão deles como seres humanos, é a mesma que a nossa, somos todos ‘doidos’ e imperfeitos.

Em um estilo de documentário a trama trará entrevistas baseadas nas memórias bonitas e/ou dolorosas dos relacionamentos amorosos dos personagens, e por conta disso, poderemos sempre vê-los conversando com a câmera, como se eles estivessem conversando com a gente (perdi a conta das vezes que me senti incluída na conversa, parecia que a história deles conversava comigo). O documentário tem seis personagens, que formarão três casais, os quais terão sua história desenvolvida (por conta do pouco tempo de execução, dois desses casais não são amplamente desenvolvidos, eles fazem apenas o raso, e o casal principal é desenvolvido ao máximo), e estes casais são: Eun-O e Jae Won, Geon e Seon Yeong e, Rin-i e Kyeong. Através de histórias que acontecem constantemente, seja conosco ou com pessoas a nossa volta, a narrativa nos fará entender que uma história tem dois lados, e por mais que o amor seja bonito, ele também é doloroso.

Pelo fato da Rin-I, Kyeong, Seon Yeong e Geon não terem sido amplamente desenvolvidos, minhas considerações sobre eles são rasas. Rin-I é uma mulher que leva uma vida simples e ama esse estilo de vida e é inegavelmente uma amiga fiel para Eun-o e Geon. Ela namora Kyeong por muitos anos. Apesar do drama não mostrar muito sobre os percalços de sua trajetória, a personagem, a meu ver, se assemelha a uma pessoa ‘cômoda’, não comodidade em relação a dinheiro ou trabalho, e sim nas ações, ela tem uma rotina e a segue fielmente, caso ela seja ‘abalada’, ela arranja outro trabalho para encaixar na rotina para que não haja mudanças, não compra coisas novas e prefere dormir na casa de seus amigos ocasionalmente para evitar de gastar dinheiro com ‘extras’ para sua casa, tenho que confessar que essa personagem me rendeu crises de irritações e também crises de fofura, no entanto, o fato deu não me identificar com ela possa ter causado a irritação. Através desta personagem podemos ver que a ‘vida feliz que a sociedade impõe’ (fazer faculdade e ter um emprego estável), não é o desejo de todos (apesar dela já ter desejado isso, como foi apresentado em uma conversa entre ela e o Kyeong), a pessoa pode ser feliz com o pouco que tem, sem ter sua liberdade cortada pelo trabalho excessivo.

Kyeong é um jovem arquiteto, sua família pertence à classe de dinheiro, sendo assim, ele pode fazer uma faculdade e trabalhar na empresa da família. Ele é um amigo excepcional, principalmente para seu primo Jae Won (o qual ele ajudou quando passava por uma turbulência em sua vida). Antes que começasse a namorar a Rin-I, ficou atrás dela por muito tempo até poder se tornar um grande amigo e declarar seu amor, somando mais de dez anos de relacionamento, esses dois tinham uma relação que inicialmente se mostra boa, mas vai ruindo cada vez mais pela falta do diálogo (de ambos os lados). Essa relação mostra que as vezes sabemos de uma relação superficialmente e a elogiamos, no entanto, apenas quem está vivendo ela sabe o que passam e o quanto escondem. O que se mostra bonito inicialmente, pode não ser tão agradável e/ou saudável.

Seon Yeong, é uma jovem professora de Educação física que coleciona ex-namorados e términos turbulentos, ela gosta de beber muito e andar sozinha na noite, pois isso faz com que ela se sinta bem. Muitas vezes ela exagera em seus términos por conta de sua insegurança, ela deixa seus medos falarem mais alto e toma as atitudes imprudentes, e até mesmo, infantis. Após isso, ela precisa encarar as consequências de sua imprudência. É justamente por conta disso que escolhe terminar com o Geon, por mais que o amasse, e implorasse internamente para que ele negasse o término, ela o fez, e sua consequência foi lidar com a dor aguda que permaneceu em seu peito. Essa personagem mostra que as vezes o que você trata como ‘infantilidade’, tem um significado grande para outros, pode ser um trauma ou dor interna e não cabe a nós julgá-los por isso.

Já Geon é um roteirista que não consegue escrever a três anos, ele é um ótimo amigo e valoriza profundamente suas amigas que estão constantemente ao seu lado o apoiando, desde que eram crianças. Apesar de não ter tido um vasto desenvolvimento, podemos perceber neste personagem o quão sábio é em suas escolhas de palavras, no entanto, ele poder ser lerdo em suas ações e acabar deixando uma coisa que poderia ter feito na hora, para fazer depois. Ele realmente amou a Seon e cuidou dela da maneira que pode, mas a falta de diálogo entre esses dois também os atacou, os impossibilitando de permanecerem juntos. O casal também mostra que ‘os opostos se atraem’, as diferenças falam mais alto, e algumas dessas vezes, pode ocasionar a conflitos desta forma, fazendo com que eles não permaneçam juntos.

Agora focando nos protagonistas, Park Jae Won é um arquiteto excepcional, ele é uma pessoa dedicada, extrema, apaixonado e muito, muito dramático. Após muito tempo dedicado a empresa de sua família, ele sai de férias por dois meses, o qual ele vive intensamente, e quando o ‘conto de fadas’ chega ao final, sem uma explicação razoável, ele acaba sofrendo alterações em sua personalidade, se tornando cada vez mais exagerado, principalmente quando o assunto era trabalho e consumo de álcool. Com ele podemos perceber que um termino não explicado pode acabar com a pessoa, a incerteza sobre o motivo, o sentimento de derrota e principalmente a magoa serão o que prevalecerão, ao invés do amor e da gratidão, no entanto, nada é para sempre, nem mesmo a mágoa, uma conversa sincera e de coração aberto podem resolver mais do que meia palavras.

Lee Eun-O, foi uma personagem divisora de opiniões, em um lado, há pessoas que a odeiam ou apenas tem ranço dela, no outro lado, há pessoas que a amam ou a compreendem, e este é o lado onde me encaixo. Por diversos motivos defendo a Eun-o, e tentarei explicar meus motivos. Esta semana eu li dois livros, um intitulado ‘Inimigos não se beijam‘ da autora brasileira Cássia Carducci, e outro intitulado ‘Não é errado ser feliz‘ da autora norte-americana Linda Holmes, e enquanto eu lia cada palavra da descrição e das demais cenas com as protagonistas femininas, eu conseguia enxergar a Eun-o nelas, é algo estranho, porém, até mesmo na minha própria vida e na das pessoas as quais me cercam, eu poderia ver a Eun-o, voltando ao foco, a similaridade das personagens das narrativas literárias que citei com a da narrativa seriada (Lovestruck) é algo forte, pois são mulheres que priorizaram o seu bem estar, ao bem estar das pessoas a volta delas, que escolheram não contar determinadas coisas da vida delas aos amigos, parceiros ou familiares, e que foram chamadas de ‘malucas e/ou egoísta’ pelas ações que escolheram tomar, e isso reflete muito na nossa sociedade hoje em dia (preciso deixar claro que não estou dizendo que ‘você’ que chama a Eun-o de egoísta ou maluca é por este motivo, você pode ter o seu motivo, só estou dizendo a minha visão de maneira geral), onde o fato dela se priorizar pode ser mal visto, de forma alguma esse argumento que acabei de usar vai anular ela dos erros que comete, ao deixar o Jae Won sofrer por um término que ele ao menos sabia o motivo ou o fato dela mentir/omitir coisas, só estou dizendo que ela estava no direito dela de estar confusa a ponto de fugir e se privar, afinal, nem todas as pessoas sempre serão fortes e resilientes para encarar tudo de frente, temos nossos momentos de insegurança e fragilidade, e tudo bem cometer um erro, somos humanos, atire a primeira pedra quem nunca errou, não é mesmo? Por este motivo não consegui julgar esta personagem, ela foi, a meu ver, a representação de uma pessoa que ficou confusa e perdida, vagou por um tempo, se encontrou, e quando teve que voltar a realidade, ela se perdeu novamente, e com isso, teve que lidar com as consequências de seus atos.

Esses seis personagens juntos vão nos mostrar as situação que as pessoas passam durante o seu processo de se apaixonar e lidar com o sentimento do outro e a confusão que se forma em nossa cabeça, cada um com uma personalidade diferente, farão com que você perceba a alteração dos sentimentos aos poucos, e principalmente, farão você se emocionar com as situações que os personagens passam.

“Existe amizade entre homem e mulher quando um deles é comprometido e outro não?”, “Existe término saudável?” e “O que você acha que é romance?” Estas são questões que o drama levanta não apenas nas perguntas, mas nas ações dos personagens, para muitas delas obtemos nossa resposta, para outras, precisamos encontrar sozinho no nosso dia a dia. Além disso, esta trama traz críticas sobre a sociedade que nos fazem refletir sobre: “O homem precisa ser experiente como a sociedade o faz parecer?”, “Por que quando um homem quer uma relação casual ele não é tratado com diferença, porém, quando é a mulher ela é chamada de ‘horrível’ ou ‘egoísta’?”, “Um emprego estável é sinônimo de felicidade para todas as pessoas?” e “O amor basta em um relacionamento?”. Em todos os episódios uma nova questão é levantada para a discussão tanto dos personagens, quanto para nós, telespectadores.

Durante uma das conferências deste drama o diretor de Lovestruck in the city, Park Shin Woo, disse: “(…) Lidamos com histórias comuns do cotidiano que qualquer um experimentaria pelo menos uma vez na vida”. Ele não poderia ter definido o drama melhor ou mais clara. Assistir Lovestruck é como se a gente estivesse vendo a história de vida de um(a) amigo(a), um(a) vizinho(a) ou a sua própria história, pois são dilemas reais que temos tendência a experimentar em nossas vidas, os personagens são seres humanos como qualquer outra pessoa, eles acertam ao achar que erraram, e erram na esperança de acertar, e a maior prova de que eles não são mera ficção, é o fato deles se arrependerem ao perceberem o erro que cometeram, ao tentar se privar de alguém ou de alguma situação, o arrependimento pode ser imediato ou demorar um tempo, no entanto, ele sempre vem, já que somos todos fadados a errar por várias vezes enquanto vivemos e precisamos aceitar as consequências de nossos erros.

Além da ideia extraordinária do documentário, o drama também é dono da melhor escolha para inclusão do marketing, eles não fazem como muitos outros dramas e escondem o marketing para que a gente veja no fundo e acabe de alguma maneira interessados no produto. Os personagens na maior parte das vezes exibem que é uma propaganda e fazem como se estivessem gravando um comercial (no estilo, eles fazem passo a passo de um café, tomam e elogiam, ou quando vão beber alguma coisa eles olham para câmera e viram para que a embalagem fique a mostra), o fato de ser tão exposto traz mais leveza ao drama e são momentos muito engraçados.

Acredito que já me alonguei demais nesta resenha (Eu ainda estou com o sentimento de que não falei tudo o que precisava, se alguém chegou até aqui, pode se considerar um guerreiro/uma guerreira). Lovestruck não é um drama onde você pode tomar partido de um personagem, afinal, eles vão errar e acertar sempre, eles têm os seus motivos para cada coisa que fazem, apesar de sabermos que algumas das escolhas não são as melhores que eles poderiam fazer, temos que aceitar suas escolhas e vê-los sofrer com as consequências delas. Pelo seu tempo de execução ser curto, o drama nos faz desejar sempre mais, no entanto, Lovestruck in the city não é um drama perfeito, mais vai nos mostrar que o amor sempre terá os seus momentos felizes e dolorosos, as vezes a dor pode ser mais forte e duradoura e as vezes ela será uma dor a qual você vai se acostumar, mas em algum momento essa dor vai sumir e vamos nos perdoar e perdoar ao outro.

Para as pessoas que estão em busca de um drama curto, que reúne música boa, fotografia esplêndida, um elenco de primeira e uma narrativa única, Lovestruck In The City é uma ótima escolha.

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Alice Rodrigues

Estudante de Comunicação social – Jornalismo, e atuando como social media, criadora de conteúdo digital e assessora de imprensa. Além de amar conhecer novas culturas, é viciada em ler e ouvir inúmeros podcast de assuntos variados. Dorameira desde de 2016, adora acompanhar e analisar narrativas e conteúdos que fazem parte da criação de um drama (elenco, filtros usados, fotografia, simbologia das cenas e outros).

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