My Dearest: quando as flores ecoam e os sonhos ganham rosto

Ele ouviu o som das flores quando a olhou pela primeira vez. Ela sentiu que o homem dos seus sonhos se aproximaria dela naquele dia.
Quando Gil Chae (Ahn Eun Jin) conheceu Jang Hyun (Namgoong Min), ela era uma jovem nobre atrevida e protegida que vivia em um vilarejo em Joseon. Ele era um estranho misterioso que estava de passagem pelo vilarejo em mais uma de suas andanças. Gil Chae sabia que podia conseguir a atenção de todos os homens do vilarejo e, com seu jeito ousado e esperto, era determinada o suficiente para ir atrás do que desejava, mesmo que fosse vista como egoísta e mimada.
Jang Hyun não era um homem para casamento, ele não queria, e os boatos diziam que seu título de nobreza fora comprado, especulavam que sua origem verdadeira era escrava. Em tese, Jang Hyun não estava à altura de Gil Chae, que era apaixonada por um nobre de seu vilarejo e Gil Chae era para Jang Hyun uma raposa, nenhuma mulher havia conseguido adentrar nas fortalezas do coração fechado dele. Mas, mesmo assim, existia algo que atraía os dois e o destino parecia fazer questão de brincar com suas vidas.
Nos dias corriqueiros e calmos do vilarejo, uma guerra irrompe entre Joseon e Qing. Assim como o inverno que chega congelando tudo, a guerra vai modificando a realidade que Gil Chae conhecia. Jang Hyun, que não deseja se envolver com nada, é arrastado para o caos da guerra. Gil Chae, que só conhece Jang Hyun nesse cenário de destruição, cada vez mais estreita o laço com o estranho misterioso. É dessa maneira que a lua para os dois se torna uma promessa e um conforto, e eles se encontram por meio dela, mesmo quando estão distantes.
A relação de Gil Chae e Jang Hyun em My Dearest é carregada de força e poesia, mas também de dor e desencontros. O relacionamento deles é desenvolvido por meio da lentidão dos acontecimentos, os sentimentos fortes de Jang Hyun são o destaque, mas também os momentos de confusão e dúvida de Gil Chae. Existe um tom épico no romance. A sensação é de estar assistindo algo grandioso em que é possível sentir cada emoção da trajetória romântica.
O que acho mais impressionante nesta história de amor é a dedicação e lealdade de Jang Hyun no tocante aos seus sentimentos pela Gil Chae. Não lembro de algum personagem que tenha amado mais que ele. Jang Hyun não desiste do que sente por ela, não importa os acontecimentos difíceis. O telespectador sofre com a dor do amor, ao mesmo tempo, que admira a magnitude de tudo. As declarações realizadas por nosso protagonista são perfeitas, cada frase e olhar de Jang Hyun está recheado de lirismo.

No entanto, não somente esse amor complexo é o que caracteriza Jang Hyun, mas também, sua personalidade ímpar. Apesar de não permitir que qualquer pessoa entre no seu coração, Jang Hyun é um homem caloroso e bondoso, que não desiste de seus princípios e das pessoas preciosas de sua vida. Em muitos momentos, ele se esconde por trás de uma fachada fria e cínica, mas sua sinceridade e lealdade são pontos prevalecentes, mesmo que ele possa ser nebuloso em muitos momentos.
Nosso protagonista é dotado de obstinação, coragem, força e inteligência, ele é tão profundo que quem o ver em um primeiro momento pode se enganar com todas as camadas que detém. A sensibilidade de Jang Hyun é notória e as injustiças e hipocrisia não são digeridas por ele, mas rebatidas. Um personagem humano com suas imperfeições, mas, contém tantas características boas e fortes que parece irreal, afinal, ele é corajoso, ousado e romântico.

A Gil Chae é uma personagem que cresce bastante durante a trama, ela presencia seu mundo ruir com a chegada da guerra. De uma vida confortável e cheia de privilégios, a jovem terá que lidar com a ausência da família, a constante perseguição e várias violências que perpassam seu caminho. Outrora, os maiores problemas de Gil Chae estavam concentrados em quem ela iria se casar, agora ela também precisa lidar com o turbilhão de sentimentos que não consegue lidar.
A verdade é que Gil Chae tem sua realidade rompida, a personagem sofre bastante, toma decisões erradas e é obrigada a amadurecer diante de tantos obstáculos. Ter a oportunidade de assistir a história de crescimento e dor de Gil Chae é desconfortável, inquietante, revoltante, mas também possibilita torcemos por sua felicidade, compartilhar de suas emoções e se orgulhar de quem ela se torna. Aos poucos, a protagonista vai colocando todos os sentimentos no lugar, com isso, My Dearest mostra que aprender com as dificuldades que permeiam nosso caminho não é fácil. Em suma, um dos meus pontos preferidos é a jornada de crescimento da Gil Chae, uma jovem protegida e mimada que aprende a proteger quem ama, a tomar decisões difíceis, que luta com todas as forças para sobreviver mesmo quando a sociedade não quer ela viva, que se torna uma mulher de força e aprende aceitar o amor verdadeiro que lhe é oferecido.
No entanto, a guerra não muda somente a vida de Gil Chae, ela modifica o interior e exterior de todos os personagens. Jang Hyun, devido ao seu forte amor que floresce pela Gil Chae e por todas as situações complicadas que irrompe seu caminho, vai se abrindo aos poucos e seguindo seu coração. Em relação ao personagem, o telespectador, gradualmente, percebe que existe um segredo do passado que o espreita.
Além dos dilemas que a guerra acarreta nos protagonistas, os personagens secundários também sofrem com o cenário caótico que passam a vivenciar, já que tanto Gil Chae como Jang Hyun têm pessoas queridas próximas. Eun ae (Lee Da In), amiga de Gil Chae, precisa lidar com o peso de um acontecimento traumático, da sobrevivência e de um amor relapso. Ryang Eum (Kim Yoon Won), cantor e amigo de Jang Hyun, suporta a dor de um amor impossível que ele nutre pelo protagonista. Yeon Jun (Lee Hak Joo), jovem nobre estudioso do vilarejo de Gil Chae, carrega sua covardia, arrogância e adoração pelo país que o coloca em situações complicadas, enquanto esquece das pessoas amadas ao redor.
Jong Jong (Park Jeong Yeon), serva e parceira de Gil Chae, e Gu Jam (Park Kang Sub), braço direito de Jang Hyun, formam um casal secundário adorável à medida que os seus amigos se aproximam e se apaixonam, eles também se conhecem e compartilham sentimentos românticos. Os dois vivenciam as tormentas de Gil Chae e Jang Hyun, enquanto não deixam os protagonistas sozinhos. Inclusive, os laços de amizade formados no drama são muito bonitos e sólidos, é precioso testemunhar a lealdade e sinceridade deles enquanto não desistem um dos outros, mesmo em um cenário desolador de guerra.

Durante seu lançamento, My Dearest foi dividido em duas partes, a primeira parte do drama possui 10 episódios e se concentra na guerra e na mudança de realidade dos personagens, enquanto Jang Hyun tenta conquistar o amor de Gil Chae. O que há de mais louvável é a forma como o drama realiza um retrato tão brutal e impactante da guerra, propiciando refletirmos sobre as mudanças na vida das pessoas comuns, o poder do rei e sua obrigação com a nação. Em suma, como em uma guerra engendrada pelos dirigentes do poder, quem mais sofre é a população, que tem seus anseios constantemente ignorados.
Assim, o drama também mostra o poder real, mas de uma perspectiva diferente que os K-dramas históricos costumam exprimir, ele parte do ponto de vista da população, retrata a pobreza alastrada pelo caminho, a fome, as violências, a sobrevivência de quem está a mercê de um governante egoísta, confuso e medroso. Um cargo de rei requer muito mais do que ficar preso em um trono. Assim, é interessante assistir como o drama representa a família real e suas divergências, bem como a trama política entre Qing e Joseon. Em destaque, o Príncipe herdeiro (Kim Moo Joon) e suas emoções diante da nação e do pai.
A segunda parte de My Dearest contém 11 episódios, fechando o total de 21 episódios que o drama possui, ela é utilizada para mostrar o desenvolvimento e consequências do conflito para os personagens. É o momento mais doloroso, violento e brutal da história, fiquei extremamente desconfortável e angustiada em muitas cenas, existem cenas gráficas fortes e já adianto que pode ter gatilhos sobre violência contra corpos femininos, uma vez que a história utiliza esse momento da história para abordar sobre escravidão e a realidade dos coreanos em Qing.
Os momentos finais da história é também a hora do amor de Gil Chae e Jang Hyun caminhar para a resolução final, declarações potentes e dolorosas estão contidas nessa trajetória, pois, à medida que o tempo transcorre o sentimento entre os dois só cresce e resiste às intempéries. Muitos pontos precisam ser solucionados na trama nessa segunda metade.

Logo, se eu tivesse que escolher um momento da história, entre a primeira e segunda metade, que eu mais gostei de assistir, ainda prefiro a primeira parte da história, por ainda ser ligeiramente menos sofrida, porque em muitos momentos eu tive que pausar para respirar na segunda metade. Como posso dizer? É como se tanta dor e acontecimentos tristes fossem se acumulando e quando mais caminha para finalização os sentimentos pesados vão ganhando força, você se sobrecarrega. My Dearest não é para quem possui coração fraco, os momentos realmente felizes são poucos, mas, ainda vale a pena ver os personagens resistindo e aprendendo, faz com que seja bonito e transcendental.
No entanto, mesmo que eu tenha infinitos elogios para a obra, não posso deixar de expressar meus descontentamentos, My Dearest é épico, mas não é perfeito. A parte final da história deixa a desejar, você sente que falta algo, o drama tinha muitas questões a serem resolvidas, e acaba construindo uma finalização apressada que não faz jus a todo o conjunto construído até então. Não chega a ser ruim, mas tampouco é tão épico quanto o resto da história, alguns plots introduzidos, a necessidade de equilibrar o romântico com o político e a expectativa dos telespectadores podem ter contribuído para que isso ocorresse. Enfim, não ficou balanceado, algumas coisas foram arrastadas e mal finalizadas, porém é um final que você pode aceitar tranquilamente, porque o decorrer da narrativa foi esplêndido.
Minhas críticas também giram em torno das cenas de violência, eu fico me perguntando até que ponto elas eram realmente necessárias e como ainda é sensível e complicado retratá-las. Ainda fico feliz pelo drama ter feito o mínimo de ocultar aquelas que diziam respeito a violência sexual, inclusive, achei o cúmulo algumas pessoas querendo que fossem mostradas e desconfiando da credibilidade do que as palavras da personagem emitiam. Infelizmente, é um retrato desolador do que é nossa sociedade atual. Não acho que violência seja entretenimento, ainda mais quanto diz respeito às mulheres.
Contudo, não posso finalizar a resenha sem vangloriar as atuações, já perdi as contas de quantas vezes eu falei bem desse elenco e de como eles entregaram tudo e mais um pouco em suas performances. Namkoong Min, como Jang Hyun, magnetiza o telespectador entregando uma atuação com gestual, carisma, olhar e voz perfeitos. Um dos motivos de Jang Hyun ser um dos meus personagens favoritos da vida, deve ser porque Namkoong Min consegue entregar os sentimentos do personagem de forma avassaladora e verídica. Ahn Eun Jin, como Gil Chae, foi a minha surpresa de 2023, a atriz mostrou tudo que é capaz em uma performance que mostrou toda a dor de Gil Chae e seu crescimento enquanto pessoa, existem cenas dela que nunca vou esquecer. Assim, a combinação dos dois juntos entregavam uma química maravilhosa, cheia de sentimentos e turbulência.
Ainda no que diz respeito a atuação, o elenco secundário também foi muito bem, destaque para Kim Moo Joon como príncipe herdeiro, que realmente me impressionou com seu talento. Um elemento que casa acertadamente com a atuação é a cinematografia da obra, ela é primorosa, existem tantas cenas esteticamente lindas e elas te puxam para a história. A poesia inserida em cada detalhe visual, simbólico e os diálogos do enredo são impressionantes. Uma cena que vem na minha cabeça é a da neve durante o casamento misturada a lágrima da Gil Chae, o olhar do Jang Hyun para ela e dela para ele, é um cena lindíssima e que marca um ponto de virada para a história, sou apaixonada, porque é como se o tempo congelasse, o inverno chegasse e com isso todos os momentos difíceis que eles não podem imaginar. As quatro estações marcam muito os sentimentos e acontecimentos da trama. Assim como, o pôr do sol, a lua, sapatos, anel e tantos outros elementos.

My Dearest vai além de uma história de amor, pois, se preocupa em desenvolver os personagens em sua rede relações e obstáculos, enquanto realiza críticas sociais e massacra nossos sentimentos com a dor do real. É desconfortável assistir o drama, porque a todo momento ele está nos lembrando de que as coisas não acontecem como a gente deseja, que nem sempre tomamos decisões coerentes e que tudo pode mudar em um segundo. Afinal, se o mundo que conhecemos hoje fosse destruído, o que faríamos? Como sobreviver? Como reconstruir sua vida? Tomar as rédeas de nosso destino não é fácil, lidar com as inúmeras cicatrizes do processo menos ainda. Enquanto assistia as emoções foram tão diversas e emaranhadas, o drama é irritante, angustiante, revoltante, ao mesmo tempo que é bonito, sensível, delicado e profundo.
A história de amor de Gil Chae e Jang Hyun parece ser mágica, mas, constantemente interrompida pela brutalidade do real, eles se machucam e se protegem no meio do caminho. Um laço que vai além de formalidades. No fim, ele é o querido dela, até quando ela não sabia disso. E ela é aquela que ele sempre esperou e fez de tudo para ouvir “querido” saindo de seus lábios, ela é a terra natal dele.
Você pode encontrar My Dearest para assistir nos streamings do Kocowa e no Viki Plus. My Dearest é um drama sul-coreano da MBC, que tem como principais gêneros: histórico, drama, romance, melodrama. Ele fez sucesso notório na Coreia do Sul e foi bastante premiado.
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