Always Home: Um retrato sincero e acolhedor da juventude

O que permanece em nossos corações quando tudo ao nosso redor parece se transformar? O que faz a juventude ser tão inesquecível? Será que podemos pausar o tempo? Esta são apenas algumas das inúmeras reflexões que temos nesta bela produção chinesa. Contando com 30 episódios, o c-drama Always Home nos leva em uma jornada de amadurecimento, onde as relações, as amizades e os amores moldam, de maneira profunda, o que somos e quem nos tornamos.
Always Home é muito mais do que uma história de juventude, é um convite para reviver os momentos de transição, a busca por identidade e o confronto com a complexidade das relações humanas. A narrativa gira em torno de jovens que, enquanto navegam pelos desafios do que é se tornar adultos, lidam com os efeitos do tempo e das escolhas, com as profundezas da amizade e os altos e baixos dos amores que surgem ao longo da jornada. A vila onde todos crescem, quase como um personagem secundário, se torna um reflexo vivo de suas próprias mudanças, com suas ruas silenciosas guardando os segredos de cada passagem e a história de cada um.
A protagonista, Chen Huan’er (Yang Xi Zi), é uma garota cheia de vida, mas que carrega consigo inseguranças e dúvidas sobre seu futuro. Seu jeito espontâneo e acolhedor faz dela uma presença cativante, e sua trajetória é marcada pela busca por seu próprio caminho, sem que sua identidade seja definida pelos outros. Ela não é a protagonista de um romance clássico, mas sim uma figura de pura energia, um reflexo de uma juventude que se vê dividida entre crescer e viver intensamente. Ela é a representação da energia jovem, mas também da fragilidade de quem busca seu caminho em um mundo que exige decisões e sacrifícios.
O protagonista masculino, Jing Xichi (Zhai Xiao Wen), é um jovem carismático e extrovertido, com uma confiança natural e um talento nato para os esportes. Ele não é o típico estudante gênio ou rebelde sem causa, mas sim alguém que vive sua juventude de forma leve e autêntica, sem abrir mão de suas ambições. Sua personalidade vibrante e sua forma despreocupada de encarar os desafios fazem dele um personagem cativante, cuja jornada reflete a busca pelo equilíbrio entre sonhos e responsabilidades.

Song Kang (Daniel Zhou) é um exemplo clássico do “filho perfeito” que parece carregar a responsabilidade de ser sempre exemplar. Inteligente e sensato, ele vive a luta silenciosa de se manter fiel aos seus próprios ideais, mesmo diante das expectativas familiares e sociais. Sua trajetória é marcada por uma constante tensão interna entre seguir suas próprias crenças e a pressão externa para corresponder ao que é esperado dele. É esse conflito que o torna um personagem fascinante e complexo, e sua jornada de crescimento reflete a busca pela liberdade interior.
Qi Qi (He Qiu) é a personagem que traz consigo a complexidade da solidão emocional, apesar de estar cercada por amizades e uma vida aparentemente perfeita. Sua relação com os outros, especialmente com Huan’er, é marcada pela busca por um sentido de pertencimento. Qi Qi tem uma visão muito idealizada do amor e da amizade, o que a torna vulnerável, especialmente quando suas expectativas não se alinham com a realidade. No entanto, sua força está em sua capacidade de aprender com os erros e de amadurecer, sendo um reflexo de como todos nós lidamos com nossas próprias inseguranças e medos de perda.
A trama também apresenta de forma mais contida outros amigos para compor o grupo, que são Do Man, Li Tian e Liao Xin Yan, formando assim o grupinho que é o coração pulsante da trama. A maneira como suas relações se entrelaçam ao longo do tempo reflete a beleza e a fragilidade das amizades formadas durante a juventude. Como se fossem peças de um quebra-cabeça, cada um deles tem seu papel e sua importância, e mesmo quando as palavras são poucas ou os gestos parecem simples, a lealdade e o carinho são os verdadeiros pilares que os sustentam. A amizade deles não é sem conflitos, mas é uma amizade que resiste, que amadurece e que, como o tempo, se transforma, mas permanece.

A vila onde os personagens vivem é um símbolo do que é constante em nossas vidas, um lugar onde o amor e os desafios coexistem e onde o tempo parece seguir seu curso sem pressa, mas com uma sabedoria própria. Ali, as famílias dos médicos e os próprios médicos são como raízes que alimentam a terra, sustentando-se uns aos outros. A vila permanece imutável enquanto as pessoas que ali habitam mudam com o tempo. Os jovens que crescem dentro dela, as amizades que se formam, os amores que florescem e se vão, tudo se transforma. Mas a vila, assim como o coração, continua batendo, imperturbável, acolhendo todos aqueles que buscam nela um refúgio e uma maneira de entender o mundo.
Em Always Home, o romance é um dos pilares da trama, mas não no sentido de ser uma narrativa idealizada. O drama explora o amor de formas diversas, como um rito da vida, em que o jovem vive amores intensos, mas passageiros, e lida com a perda desses amores com a mesma intensidade com que compartilha as novas fases da vida. O amor aqui é visto como um companheiro constante, que cresce e amadurece com os personagens. A tristeza de ver um amor partir é real, mas há também a alegria de testemunhar o nascimento de novos sentimentos, novas conexões, novos inícios.
Para além de reflexões sobre amores e família, a produção traz fortemente uma reflexão sobre a transição da juventude para a vida adulta, mostrando que ela não é feita apenas de grandes decisões ou momentos dramáticos, mas de pequenas escolhas cotidianas, de gestos que parecem insignificantes, como arrumar a mala de alguém que gosta ou aprender a cozinhar, mas que, com o tempo, ganham uma enorme importância. As relações mudam, as perspectivas se alteram, mas a essência de quem somos continua a ser moldada por aquilo que vivemos, pelas amizades que cultivamos e pelos amores que experimentamos.
Outro ponto que me encantei na produção foi a fotografia. A maneira como a câmera capta os detalhes, o movimento, e as nuances da luz cria uma atmosfera de nostalgia e esperança. O uso das cores é uma extensão da trama: tons suaves e aconchegantes marcam os momentos de intimidade e de reflexão, enquanto tons mais fortes são usados para intensificar os momentos de tensão ou transformação. Cada cena é uma pintura cuidadosamente composta, que fala diretamente ao coração do espectador.

Se eu fosse pensar em coisas do que reclamar sobre esse drama, o principal seria o fato dele acabar, ele termina dando um gostinho de quero mais para a produção. Mas se analisarmos bem, entendemos que por mais que seja um delícia de acompanhar, Always Home não é isento de falhas, o drama peca em um ponto comum de dramas chineses: a falta de desenvolvimento de personagens secundários, acho que havia algumas narrativas secundárias que renderiam boas reflexões, mas que acabam sendo anuladas ou apenas ignoradas.
Para você que gosta de romances juvenis de amadurecimento e com grandes mensagens e reflexão sobre a vida, e que gostou de dramas como When I Fly Towards You (2023) e Time and Him are Just Right (2022), sugiro que assista a Always Home (2025).
Always Home está disponível para ser assistido no Viki e na WeTV!