Thirty Nine: viver, perder e se reconstruir aos 39

Olá, pessoas! Escrevi essa resenha em 2022 e estou repostando para vocês!
Aqui quem escreve é a Brenda, e hoje vou resenhar para vocês o K-drama de 12 episódios denominado Thirty Nine, transmitido pela JTBC e estrelado por Son Ye Jin, Jeon Mi Do e Kim Ji Hyun. Recentemente, o drama está presente na Netflix Brasil. Esta é minha primeira resenha em muito tempo, então peço que sejam compreensivos se ela não ficar tão boa assim. Na verdade, é a primeira resenha que escrevo em 2022. Agora vamos conhecer um pouco sobre essa história?
Thirty Nine é uma trama que narra o cotidiano de três amigas de 39 anos, quando uma delas descobre que tem uma doença terminal. A partir disso, acompanharemos como elas lidam com a amizade, o amor, a vida e a morte. Mi Jo, interpretada por Son Ye Jin, é uma médica dermatologista e proprietária de uma clínica. Ela é sorridente, independente, esperta e sincera, mas carrega feridas do seu passado e sofre com ataques de pânico. Cha Young, interpretada por Jeon Mi Do, é professora de atuação e tem seu estúdio. Ela pode parecer fria, mas é uma pessoa doce, sincera e direta. Seu maior sonho era ser atriz, e sua trajetória no drama será marcada pela descoberta de uma triste notícia. Joo Hee, interpretada por Kim Ji Hyun, trabalha como gerente em uma loja de cosméticos. Ela é aquela terceira amiga que todo trio tem: às vezes se sente esquecida pelas outras, mas é sempre uma pessoa extremamente doce, tímida e fofa. Aos 39 anos, ela nunca esteve em um relacionamento romântico.

Antes de começar a assistir Thirty Nine, a pessoa precisa ter em mente que a história se trata de um melodrama. Assim, a narrativa é mais lenta, e o choro é um dos ingredientes certeiros dessa trama. O foco da história não está no romance. Ele vai aparecer, sim, em segundo plano, e depois comentarei um pouco mais sobre ele na trama de cada personagem, mas não é um dos pontos que mais se destacam. Logo, se alguém estiver atrás de uma comédia romântica, recomendo não começar.
Aliás, vou avisar imediatamente que Thirty Nine é uma história dolorosa. O drama é melancólico e, à medida que os episódios vão se desenrolando, ele vai ficando ainda mais emocional. O psicológico precisa estar preparado para aguentar essa jornada, afinal, trata-se de acompanhar o último ano de vida de um ser humano. Porém, não são apenas momentos tristes que compõem Thirty Nine. Ele transmite uma sensação agridoce. É possível, ao assistir, até mesmo sorrir em meio às lágrimas. Ao mesmo tempo em que a obra é triste, ela é infinitamente doce, delicada, singela e amorosa. A sensação de coração quentinho estará lá, mas acompanhada de um gosto amargo, marcando o fim.
Um dos aspectos que mais gosto em Thirty Nine é o fato de ele ser uma narrativa cotidiana. Simplesmente amo doramas com foco no cotidiano. Por ser assim, a história é simples e devagar. É como experienciar a vida dessas três personagens. O drama nos oferece espaço para sentir e se familiarizar. Nos episódios iniciais, conhecemos pouco sobre elas, mas conforme o dorama avança, nos sentimos cada vez mais inseridos no cotidiano dessa amizade. Nos episódios finais, parecia que eu fazia parte daquele trio, mas ainda assim queria ser amiga das três personagens. O apego provocado pela trama é uma via de mão dupla: nos gera amor, mas também é por conta dele que o dorama bate de forma tão forte em nossos sentimentos. Se você não chorar assistindo Thirty Nine, está desprovido de coração. A tristeza não é o único sentimento provocado; choramos de felicidade, de angústia, de revolta, choramos diante da perda e da vida.
Perda e vida. Duas palavras que são tão diferentes e, erroneamente, acreditamos que estão distantes. Thirty Nine nos mostra que são intrínsecas, isto é, estão inteiramente ligadas. Viver é estar sujeito a perder, seja algo ou alguém. Apesar de a sociedade não ensinar isso, pelo contrário, ela só enuncia o vencer e o ganhar, a perda está em todos os cantos, espreitando. Uma hora ou outra, teremos que perder algo, cedo ou tarde, mas sempre será cedo. Thirty Nine nos mostra que nunca estamos prontos para perder, especialmente uma pessoa que amamos. Será que algum dia estaremos? Provavelmente não. No entanto, o drama ainda demonstra como viver nossos dias com a perda espreitando à porta, incita reflexões sobre como devemos lidar com a morte e transmite que não há uma maneira correta de lidar com ela. Talvez a única forma certa seja emanando amor, mesmo com dor.

Dessa forma, o dorama, ao longo dos seus 12 episódios, nos convida a aproveitar o tempo de vida que ainda temos aqui. Não é sempre que estaremos felizes ou que conseguiremos ser felizes. No entanto, fazer o possível é essencial. Thirty Nine desmistifica a ideia de que a felicidade é um estado constante de 24 horas. Podemos ser felizes na tristeza. O que resta no final é a soma de tudo o que fazemos, do que somos gratos, das pessoas que cultivamos. Isso pode ser o verdadeiro resultado da nossa felicidade. A história expressa que ser feliz é difícil, mas a simplicidade de viver nossa vida com tudo o que temos já é felicidade. Por tratar da morte e da vida como tão próximas, é uma obra que convida a fazer tudo o que não fizemos, a superar os medos e os traumas e buscar significado para nossa vivência.
A escolha da idade das personagens também é um ponto interessante na trama. Todas as três possuem 39 anos, além da simbologia do 9 como o fim de um ciclo e o início de outro. 39 também é uma idade significativa, pois existe uma desvalorização dessa fase da vida. Afinal, ter 39 anos é não ser mais jovem (mas o que é ser jovem, afinal?). Acredito que, mesmo de forma sutil, Thirty Nine contribui para agregar uma nova perspectiva sobre pessoas nessa faixa etária. Pessoas de 39 anos ainda têm sonhos, ainda carregam traumas de juventude, amam, brincam e podem não se sentir tão adultas assim. Elas carregam consigo um pouco do peso do tempo, mas também sentem que esse tempo passou tão rápido.
O dorama nos questiona: “Você vai estar assim com 39 anos?”. O que você fez quando tinha 19 anos? E quando tinha 29? As personagens sentem que, apesar de terem feito muitas coisas, não aproveitaram o suficiente. Não resolveram todas as suas questões internas. Sempre vai haver um ponto “insuficiente”. Dessa maneira, o drama grita: “Nunca é tarde para viver!”. Mesmo se a morte espreitar sua porta, mesmo se a dor se apoderar de seu coração, viver é preciso. Thirty Nine anuncia que existe um fim para tudo: para cada ciclo, para cada estação. As lembranças que carregamos dentro de nós, os laços que formamos, eternizam esse dito final.
Na verdade, o que a trama faz com primazia é incentivar a encararmos nossas dores, mesmo que seja desconfortável. Encarar é a palavra-chave. Encarar nossos sonhos, nossos medos, a vida para ser vivida precisa ser encarada. Diante disso, o dorama, além da sensibilidade em abordar assuntos como o tabu da morte — afinal, o que fazemos depois de estarmos mortos? Como é nosso último suspiro? — também discute questões opostas e intrínsecas, como o poder de uma vida e o poder de cuidar de uma vida. O drama discorre sobre temas como a adoção, gerando discussões interessantes: quem abandona pode revogar seus direitos como pai biológico? Uma mãe adotiva é menos mãe que uma biológica? O sangue é realmente tão importante na hora de amar uma criança?
Além desses questionamentos, Thirty Nine denota os sentimentos de uma criança órfã/adotada, os preconceitos sofridos na sociedade e a sensação de insuficiência que muitos delas cultivam. Sentem-se não aceitas, com medo de ser abandonadas, a sensação de que sua vida não lhes pertence. Quando o drama discute adoção, ele nos mostra que toda vida é preciosa e exala a força e diferença que dar e receber amor realiza em nossas vidas. Pense só: temos de um lado uma vida prestes a acabar e, do outro, vidas que foram abandonadas. O desalento permeia ambas, mas o amor e o cuidado são necessários para as duas. E, se existe um terreno para esse amor e cuidado florescer, é nos laços que formamos. Thirty Nine nos mostra a importância da família. Acompanhamos as relações dos personagens com seus familiares, sejam mães, pais, irmãos. As dificuldades que surgem nesse âmbito, mas também as reconciliações, os momentos de dor e felicidade.
Não apenas os laços familiares, mas também a amizade. Nesse sentido, os amigos também são uma família. A amizade entre as três é tão linda. É um prazer assistir ao companheirismo delas, ao quão forte é o laço entre elas. Uma das amizades mais bonitas que tive a honra de assistir. Elas brincam umas com as outras, falam verdades dolorosas, se apoiam e possuem seus momentos de desavenças. Este é um drama em que a amizade é o elemento mais importante da trama. E o fato de a amizade enaltecida ser feminina torna tudo melhor. Podemos acompanhar, por meio de flashbacks, o início da amizade das três personagens e muitos momentos que tiveram que enfrentar juntas. A doçura da trama está contida na beleza dessa amizade.

O romance na narrativa se desenvolve de forma sutil e singela. Vemos cada uma das três personagens principais se envolvendo romanticamente com um personagem masculino. Assim, o dorama nos permite acompanhar três tipos diferentes de romance, cada um com suas especificidades. Mi Jo conhece Seon-u em um orfanato que ela costuma visitar. Eles se encontram novamente e se envolvem romanticamente. O casal formado por eles é uma fofura. Desenvolvem um relacionamento maduro, em que os sentimentos dos dois estão sempre claros. Aliás, se tem um personagem masculino que eu amo, esse é o Seon-u. Ele é direto, sincero, maduro, gentil e fofo. Fala sempre o que quer do relacionamento e o que pensa. Também tem seus próprios problemas para enfrentar durante a trama e está sempre apoiando e valorizando a presença de Mi Jo em sua vida. Eles são uma doçura e, ao mesmo tempo, uma calmaria. As cenas desse casal são de reconforto, paz e delicadeza. Eles protagonizam a maioria das cenas românticas do drama.
Um casal complicado na trama é o formado por Cha Young e Jin Seok. Eles namoraram na juventude, mas o Jin Seok engravidou uma mulher e se casou com ela. Na atualidade, os dois mantêm um relacionamento platônico enquanto o Jin Seok está casado. Ambos se amam e saem em encontros frequentemente. Foi um casal que gerou até polêmica na Coreia do Sul, uma vez que o personagem masculino estava casado enquanto saía com Cha Young. Internautas denunciaram a romantização da traição. É um casal difícil de gostar no início da história, mas o drama nos faz simpatizar aos poucos com os dois, diante de toda a dor que passaram. No final, eu estava aos prantos. A história deles carrega muitos erros e arrependimentos. Não sei se vejo isso como a romantização de uma traição, dada a situação de vida conjugal do Jin Seok. Acredito que podemos entender os motivos e sentimentos de todos os envolvidos, mesmo sendo uma atitude errada. Não acho que o drama passe pano para a atitude de ambos; ele apenas mostra uma realidade.
O último casal é o formado por Joo Hee e o chefe do restaurante. Joo Hee é mais velha que o chefe do restaurante. Eles formam primeiro uma relação de amizade e, aos poucos, se aproximam. Eles formam o casal da leveza no drama, com cenas divertidas e fofas. Não há muito a se falar sobre o casal, pois não tiveram muitas cenas juntas. Não foi um casal bem desenvolvido. Eles tiveram pouco espaço de tela e, com certeza, mereciam mais, pois são uma simpatia.
Confesso que minhas críticas a Thirty Nine começam a surgir aqui. Além do fato de esperar um maior desenvolvimento desse terceiro casal, eu esperava que a trama fosse mais equilibrada entre as três personagens femininas centrais. Fiquei triste com o pouco espaço dedicado a Joo Hee, sua história e desenvolvimento. Ela ficou apagada em relação às demais. Acredito que, mesmo Mi Jo sendo a personagem central, o dorama oferece tempo demais de tela para ela, o que provoca um desequilíbrio no ritmo da história e no desenvolvimento de outros personagens. Por ser uma história sobre a amizade de três amigas, eu esperava que as três tivessem o mesmo destaque na trama. Thirty Nine peca nisso, a meu ver.
Assim, apesar de não ser uma história perfeita, o dorama conseguiu, ao longo de seus 12 episódios, transpor sentimentos de forma ímpar. São tantas cenas lindas nessa história que é difícil colocar em palavras tudo o que ela agrega em nossas vidas. Thirty Nine apresenta um show de atuação, que é responsável por fazer o telespectador sentir tanto em um único olhar entre os personagens. O drama nos arranca risadas, choros e emana amor, mas também abre feridas e escancara realidades. Afinal, a saudade nunca vai embora. Thirty Nine nos ensina que a vida é caprichosa, imprevisível, efêmera, mas também é sobre nos reconstruirmos, seja aos 19 anos, 29 ou 39. Nos reconstruirmos mesmo carregando as cicatrizes do tempo em nós, aprendendo a lidar com esse tempo ou com a falta dele.
Quem já assistiu essa história que nos arranca muitas lágrimas?