Mad for each Other: De louco, todo mundo tem um pouco

Mad for each Other: De louco, todo mundo tem um pouco

Saudações! Brenda aqui. Hoje vim resenhar “Loucos um pelo outro”, em inglês Mad for each Other, drama coreano, de 13 episódios, disponível para vocês assistirem na Netflix.

A história de “Loucos um pelo outro” é sobre Lee Min Kyung, uma mulher com problemas psicológicos derivados de uma experiência do passado, ela não consegue confiar em ninguém e sempre acha que está em perigo ou sendo perseguida. Min Kyung (Oh Yeon Seo) também se veste de forma diferente, sempre com óculos de sol e uma flor no cabelo, parece estar sempre se escondendo. Do outro lado da trama, temos o detetive da divisão de crimes No Hwi Oh (Jung Woo), ele foi afastado do emprego por conta de um incidente e possuir problemas psicológicos no sentido de que não consegue controlar a raiva que sente, sempre explodindo. Esses dois personagens acabam se conhecendo, pois frequentam a mesma psicóloga e depois descobrem que são vizinhos no mesmo prédio.

O drama propõe acompanharmos a história de amor e cura da Min Kyung e do Hwi Oh. O primeiro aspecto das interações entre os dois, perceptíveis logo no primeiro episódio, é que são bastante divertidas, pude rir muito enquanto assistia ambos juntos, tudo porque além de apresentar situações cômicas referentes a como cada um dos personagens se portam em sociedade, temos também uma antipatia imediata entre os dois personagens. Ambos acham que o outro é irritante e doido (a) varrido (a), e mesmo sendo diferentes em alguns aspectos, eles são bem semelhantes, então se repelem. Isso gera muitas cenas cômicas, mas também deixa quem está assistindo curiosa (o) para saber o que há por trás dos traumas de ambos os personagens, descobrir as outras camadas deles e ver eles se tornando mais próximos.

Assim, a partir de cada interação dos personagens percebemos eles aos poucos se reconhecerem um no outro e criarem um mundo particular para si mesmos, já que os loucos são os outros, um mundo em que um aceita a loucura do outro (Inclusive, combina muito com aquela música “de todos os loucos do mundo eu quis você porque sua loucura parece um pouco com a minha”). Mad for Each Other expressa muito sobre a aceitação e a confiança, a aceitação e respeito que devemos ter um pelo outro, mas também por nós mesmos. Nesse sentido, a confiança é necessária, já que o drama mostra esse processo de construção de confiança no relacionamento dos personagens, a Min Kyung não confia em si mesma, muito menos nas outras pessoas, que é o mesmo caso do Hwi Oh. A relação dos dois, apesar das turbulências que passa, é boa de assistir, pois evidencia a união de duas pessoas que estavam afundadas em seus problemas internos e que conseguem alguém para estender a mão, estar do lado e apoiar, que mesmo com todas as discrepâncias se entendem, isso é o que mais gosto no relacionamento dos dois.

Além disso, a Min Kyung e o Hwi Oh são bem fofos juntos, ao mesmo tempo que estabelecem uma relação madura, ainda é possível ver o lado fofo e infantil dos dois personagens. Confesso que gostaria de ter visto mais dos dois como casal oficial, o que vi foi suficiente, mas tudo que é muito bom a gente quer mais, não é? Afinal, os dois juntos me surpreenderam e fizeram eu surtar muito com mini ataques cardíacos. Mais um adendo é que adorei como trataram os personagens como dois adultos que são, muitos dramas costumam infantilizar ou purificar demais as relações e os personagens terminam parecendo que não possuem a idade correspondente, aqui fica claro que ambos são adultos, que já tiveram outros relacionamentos e não são a “pureza” em pessoa.

Durante as semanas que comentei “Loucos um pelo outro” no Instagram no quadro “assistindo”, eu disse que o kdrama trata de muitas temáticas importantes e, como tal, necessárias. Um dos pontos que mais me preocupei ao assistir o drama, era sobre como ele ia tratar as questões psicológicas de ambos os personagens, logo no início gostei da forma que transcorreu, pois o drama coloca os transtornos dos personagens e insere cenas deles indo na psicóloga e fazendo o tratamento. Isso foi um acerto, pois a partir desse aspecto podemos visualizar como esta o processo de curar de ambos e também entender as emoções de cada um perante os acontecimentos, já que ao falar com a psicóloga a produção passa a ideia de que o personagem está falando com nós telespectadores.

Então, a trama está de parabéns, pela introdução séria acerca dos problemas psicológicos, contextualizando-os e colocando que qualquer pessoa estar suscetível a eles e que ir ao psicólogo é o caminho para tratar. Com isso, não acredito que o drama coloque o amor como a cura dos problemas psicológicos, como muitas outras histórias colocam, mas sim como algo que pode ajudar no tratamento desses problemas. Aliás, se tem uma coisa que suponho que pode ter faltado na história é realmente quando chega mais pro final, faltando mencionar como anda os transtornos psicológicos de cada personagem e o tratamento, já que é um processo continuo.

Ademais, a obra estabelece uma abordagem interessante ao brincar com a loucura dos personagens como aspecto cômico, e conseguir equilibrar isso ao não banalizar a importância de discutir os transtornos psicológicos. Isto é, por mais que os personagens chamem um ao outro de louco, a história também desmitifica a ideia de “doido” que a sociedade construiu, a concepção de normal e fora do normal, afinal, o que é realmente fora do normal? Será que as pessoas que a sociedade exclui e chama de doidos não são as mais sãs? O que há por trás da chamada loucura que tanto é desprezada? É possível viver sendo totalmente sã?

Mad for each Other não tem somente personagens principais (Obviamente kk), o kdrama possuir alguns personagens secundários que gostei muito de acompanhar, apesar de dado a quantidade minutos da obra e a proposta da história, os personagens secundários terem tido pouco espaço. Temos as mulheres do prédio que geraram muitas cenas cômicas e são personagens que podem muito bem ser encontradas por aí, a menina que possuía muitos empregos de meio período e estudava para o concurso, bem como a inserção super positiva do homem que se veste de mulher. Aliás, esse último merece comentários maiores, já que é a primeira vez que vi essa temática sendo abordada e de uma forma boa dentro das histórias, já que o drama também reserva um pouco espaço de tempo para pensarmos sobre o preconceito sofrido pelo mesmo, e esclarece o que muita gente confunde ao achar que só porque uma pessoa se veste do sexo oposto isso muda a orientação sexual dela, isso não é verdade, orientação sexual não está relacionada a forma que a pessoa se veste. Como já mencionei, é interessante pensar aqui nos julgamentos que muitos fazem, e no olhar que é reservado ao outro, a sua forma de vida e suas escolhas e gostos, e como esses julgamentos interfere na vivência das vítimas que o sofrem.

O que quero dizer é que os personagens do drama possuem uma dose de realidade, já que são trajetórias de pessoas que podem ser reais, desde a menina que estuda e trabalha muito como a do homem que gosta de se vestir de mulher e tem que lidar com os olhares da preconceituosos da sociedade. (Tenho que mencionar que shippei esses dois personagens kk queria muito ver mais da trajetória dos dois).Na verdade, eu gostei muito de todos os personagens da trama, a história da protagonista Min Kyung é sensível e emociona, ela é uma pessoa divertida, fofa e gentil, que vivia uma vida estável, mas teve seu mundo virado de ponta a cabeça, eu amei a pessoa dela. Já o Hwi Oh apesar de sempre explodir com todos, e isso me causou leves irritações no início, foi possível entender ele e ver uma pessoa doce, companheira e que consegue ter empatia pelas outras pessoas, não julgando-as. Todos dignos do meu amor, menos os vilões obviamente.

Um último ponto que gostaria de comentar sobre o kdrama é ainda no âmbito das temáticas importantes, para mim o melhor aspecto de Loucos um pelo outro foi inserir o olhar de uma mulher vitima de violência tanto psicológica como física por parte do namorado, isso tocou em muitas feridas da Coreia do Sul, mas também da nossa sociedade como um todo. Foi possível refletir sobre o machismo na nossa sociedade, a descredibilidade da voz das vítimas e como mesmo sendo VÍTIMAS são as que são acusadas e excluídas das sociedades, o que esta ligado a posição da mulher na sociedade como são vistas, como sofrem pressões e o que esperam delas, as diversas imposições que implica ser mulher.

Como já até mencionei, os diversos julgamentos que as pessoas fazem sem parar pra pensar na posição de quem os sofre, não hesitando em atirar a primeira pedra, e como essas ações possuir sim, um impacto enorme no psicológico, restringindo o direito de ir e vir das pessoas, nesse sentido os ataques online também são mencionados. Além disso, é possível pensar no papel da justiça em relação a esses criminosos, já que existe uma naturalização e, consequente, banalização desse tipo de ocorrência, muitos criminosos terminam sendo soltos e voltando a fazer mal a vítima. Enfim, não posso passar o dia todo falando pra vocês dessa temática, mas o drama faz um excelente trabalho em abordar tudo isso de forma séria e com asquerosidade que é, impossível não ficar revoltada e triste ao assistir essas cenas. Espero ver mais abordagens como essa em dramas no futuro.

Em relação ao final do drama acredito que o mesmo tenha sido apressado, aliás, Mad for Each tem também um pouco de investigação policial, já que o Hwi Oh trabalha como detetive da polícia e procura um criminoso, esse aspecto da investigação na história poderia ter sido melhor trabalhado, mas está perdoado, já que o drama não tinha muitos episódios e minutos, na verdade a história conseguiu responder mais questões do que eu imaginei que faria no final. Assim, não considero o final da história aberto, a questão é que ainda tem muitas coisas que podem ser abordadas na história, então eu que nunca acho que uma segunda temporada é necessária, acredito que uma continuação para história aqui cairia bem, pois poderia explorar de forma mais profunda os outros aspectos que ficaram. O final é satisfatório com um gostinho de quero mais.

Por fim, se eu tivesse que resumir a experiência de assistir “Loucos um pelo outro” em poucas linhas seria que é uma história necessária e leve que contribuir para a desmitificação de muitos preconceitos da sociedade, que consegue equilibrar bem o divertido com o sério, sem medo de denotar que a loucura verdadeira e que deve ser ridicularizada é aquela que fere a vivência dos outros seres humanos. O kdrama é a combinação perfeita do louco, fofo, romântico, divertido e do sério, super recomendo e amei absolutamente.

Brenda Mendes

Historiadora, professora e criadora de conteúdo digital, está sempre em busca de uma nova história para desbravar e aquecer seu coração, apaixonada por doramas de romance e slice of life, é uma leitora ávida há mais de 10 anos.

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